Alguém que me lê e eu não vejo.

2004/12/29

Palavras à chuva numa tarde...
Apetece-me beber sofregamente o fio líquido que se esvai desta quadra da família e dos afectos. Abandono o resto, tudo além daquilo que era puro, simples e me faz falta. Tudo aquilo além do quanto eu queros estes meus mundos sempre por perto. Repudio os sapatinhso de cristal e as barbas brancas do idosos de faces encarnadas.... Repudio o tempo que tudo muda, resoluto, imparável.
Em mim aprisiono as palavras à chuva de uma tarde, que dispararam sobre mim todos os sonhos que contenho... o rio corre, sim, irredutível, em frente... mas tu não. Não o teu olhar de sereia perdida, encantada, no oceano de lágrimas azuis, felizes. Tu disseste que valho não como ouro, nem diamante, mas sim o sal que se dissolve nos paladares e no sangue, nas secreções, nas vísceras. Diz-me! É por isso que continua a saber bem correr na relva, por isso que mergulho, por isso que digo que aprendo a viver. Para que te orgulhes de mim de uma forma inabalável, dura. És deslumbrante,ainda que nesse teu jeito de lutadora camuflada, esse jeito que surpreende, que viola, que despedaça os nós de mármore que enfrentas. Esse teu jeito que vence impreterivelmente. Não, só isso não te deixo dizer, isso não mudará, não, querida.

2004/12/20

Vagueando o olhar por entre as nuvens que não se esforçavam por esconder a lua, pensava nisto, que me disseste assim em tom de voz passiva atirada ao acaso para as nossas frases. Pensava-o enquanto a pouco e pouco parecia despertar, para este mundo meigo que criei à minha volta, um mundo que eu fiz para me esconder de outros mundos sobrepostos. Caminhava por entre montras da noite, vitrinas despidas, luzes escondidas, sentimentos reguardados. Dentro de mim. E pensava-o, será que é possível mesmo dar um sentido ao porvir? Será mesmo que as pessoas não despejam essas questões pseudo-filosóficas para limarem de uma forma discreta e elegante as aretas afiadas dos seus egos? Provavelmente espero uma resposta estridentemente afirmativa... ninguém é realmente profundo e poucos conseguem saber quais são as verdadeiras questões... tão pouco eu caminho sobre a água da clarividência, algumas das certezas prefiro-as mesmo submersas. O porvir, os ideais, o sonho: murmúrios inaudíveis, irreproduzíveis, distantes... tantas vezes!

2004/12/06

Um piano invisível,
notas que fluem afinadas por sentimentos que não se ouvem...
Uma lágrima ilegível ,
versos egoístas pertencem a todos, não são de ninguém...

Hoje vi essa lágrima escondida no horizonte de alguém não tem sede para lágrimas,
vi nesse olhar a falta daqueles olhares que veêm.
Vi um rosto sujo, senti umas mãos frias, vi um rosto desnudado de orgulho,
um rosto que não se pode abrigar num dia de chuva, um rosto que nunca se pode abrigar.

E tudo isto, surgiu ao longe, como se não pudesse ouvi-lo,
um ecoar breve da dor não-dimensinal dentro de mim.


2004/12/02

De facto, as horas na faculdade, o estudar, um trabalho que me anda a dar que pensar... tudo isso, não me tem deixado muito tempo meu, muito do (que já era pouco) tempo que me sentava por aqui, nesta cadeira, e passeava-me por poemas e linhas soltas... com o tempo, o tempo parece fugir. Sim posso dar-me ao luxo de usar este tipo de frase, porque mais ningúém, senão eu disfruta verdadeiramente do que aqui está, quando o partilho sorrio.

O trabalho continua amartelar no meu pensamento... ao menos se eu pudesse acrescentar algo novo! Mas sem contacto com a ciência, apenas em contacto com páginas pesadas, nada consigo acrescentar, nem posso.

Apenas disperso entre palavras e ideias já concebidas. Resta-me pois divagar ao sabor daquilo que me fascina e também ao sabor daquilo que faz um reflexo pálido nos meus olhos. Metáforas que me são quase proíbidas e que por vezes parecem ganhar uma certa condescendência. Tenho de escrever como penso que penso sobre o facto de talvez ser bom anotar aquilo que penso. Talvez assim, não descubra muito sobre o mundo, ou sobre a ida e talvez nem dê qualquer tipo de sorriso a ninguém, mas descobrir-me-ei um pouco mais.

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