Alguém que me lê e eu não vejo.

2004/10/27

...pense em cada parágrafo de tal forma que a idéia central apareça na primeira linha, a argumentação no meio e a conclusão na última sentença;

Pára de chorar!!! Já te disse!!! Ordeno-te que pares de chorar!!!
Se parasses de chorar, talvez me enternecesses com a tua folha de papel branco, a folha onde te escreves e q escondes por detrás de lágrimas e supiros impensados de dor. Quando choras não ouves.
Então não chores mais, não chores sempre, porque a chorar nunca me ouvirás dizer que gosto de ti.

2004/10/24

É por alguns instantes esta sensação de que nas veias corre sangue misturado com ilusão, com vontade e com esperança. A inspiração de uma criança que salta por cima das nuvens cor-de-rosa. No fundo é disto que eu falo, do que pode não ser palpável, do que pode não se beber, do que pode esgueirar-se por entre grãos de poeira. Falo daquilo que também pode encostar-nos a uma parede, tela negra forrada de veludo azul, e espremer-nos até ao fim. Mas do que falo não interessa se não o digo...

.... manhã de Outubro: chuva, tapetes de tule branco, passeios encobertos por mantos de pessoas encasacadas. Sinto-me como se não me sentisse, caminho como se voasse, e acomodo-me no muro de pedra polida resguardada por um alpendre familiar, mas que não pertence a ninguém. Alojo-me na vontade de querer repatir-me e ir de encontro a todos os lados. Quero percorrer caminhos até chegar mais longe e mais alto, onde não estou. Quero invadir cada pessoa com o meu sorriso, o meu gesto, o meu sobrolho fransido.

Mas não vou, não percorro, não invado.Será mesmo que o mundo, que os lugares, que as pessoas já têm suficiente de mim?

2004/10/22

O que é ter isto tudo aqui comigo?
Como espinhos de castanheiro e não de rosa,
acumulados nos meus suspiros vespertinos,
emaranhados nas minhas lágrimas pela noite dentro.

Oh! Quem dera arrastar por aí este corpo baço,
para que só os sorrisos o vissem, para que fosse invisível
a esqueletos fugídios, a interesses de feiticeitos, a estrelas invejosas,
a tudo isto que parecem fábulas de olhares tristes,
olhares molhados pela derrota.

Quem dera conseguir soprar ao mundo,
que rastejo quando ando,
que toda a energia se envolve em mim como setim,
que é macia mas escorrega.
Quem dera que o mundo inspirara,
este ar quente que me abafa,
que por um momento aspirasse
as correntes sujas,que por um momento,
mundo, suportasses o seu asco.
Quem me dera olvidar tudo o que fui, para não ser,
para cobardemente não ser, só um bocadinho, só aqui.

Deixem-me não ser: rosa púpura, estrela invejosa, feiticeiro dúbio, todos!!!

Deixem-me ser invísivel, deixem-me não ser... é só o que eu quero, só um bocadinho,
só aqui.

2004/10/11

Estou por aqui a sorrir.... Ainda te lembras? De como te conheci naquele dia de chuva infernal? De como nos tornámos próximos? De como fomos testemunhas dos suspiros um do outro? Conhecemo-nos naquele dia, na sala de aula. O professor rabiscava já algumas linhas no quadro, eu estava na última fila, entraste e emulsionaste o teu sorriso, o mesmo que muitas vezes viria a varrer as sombras do meu espírito.

Às vezes vou na rua, nos autocarros e começo a prestar atenção a conversas, ouço muitas vezes por aí que nos dias de hoje já não se "fabricam histórias de amor como antigamente". Interrogo-me o que as pessoas querem dizer com isto? já não sabem os jovens o que é o "amor verdadeiro". Já não têm os jovens que ultrapassar barreiras sociais porque estas são mais ténues, já não passam eles grandes privações, já não precisam eles de se esconder. Será mesmo tudo mais simples? Vivemos num mundo de divórcios, de ligações fortuitas, algumas até levianas... não me cabe analisar o porquê, mas constacto que os laços entre as pessoas são cada vez mais frágeis. Muitas pessoas sobrevalorizam a sua individualidade o seu "eu", em detrimento da partilha de bens como... o coração. Ouço muitas destas coisas, constacto-as, mas são todas elas como um eco ao fundo duma praia, ecos partilhados por rochedos elevados acima do mar, indiferentes.

As palavras jamais descreveriam as dimensões de como nós nos amámos, as palavras que abrangem todo o infindável, interminável, infinito sentimento que encerravamos dentro de nós. Jamaias encontraria lugar nas linhas deste blog, nem na soma de todas as linhas de todos os blogs concebidos e por conceber que refugiassem todas essas palavras.
Agora somos nós e o Outono, rodeados pelas folhas e pelo vento, pelos nossos beijos e pelas nossas carícias. Agora consinto em escrever isto. Tudo em mim é também o teu mundo e os teus olhos nos meus, muitos dias depois de termos conhecido o sorriso um do outro.

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