Alguém que me lê e eu não vejo.

2006/09/08

Lembrar-me-ei disto: quando a montanha voltar, com a sua supremacia enaltecida pela falsidade da luz da lua eu própia a rasgarei com as minhas unhas. Prefiro o meu vale à tua subida, que não me quer lá no topo, mas vítima da queda por ela abaixo. Não cairei novamente.

2006/09/07


- Ouvi a música que me faz lembrar de ti...
- E depois?
- Depois verti uma lágrima de saudade.
- Gostas demasiado de mim.
- A palavra demasiado não existe associada ao verbo gostar.
- Já pensaste que nunca vou gostar de ti assim.
- E na minha mão, consegues segurar?
- Às vezes com força.
- E esse às vezes pode acontecer sempre?
- Sempre.
Olho em volta branco e castanho, lisa e rugosa, a parede. Encostada a ela a cabeça fica mais leve. Choro.
- Porque choras? Era lá preciso!
- Sim era. Porque me trouxeste da lua.
- Estou cansado, já devias ter ido.
- Vou já. E não volto.
Os risos entoam. E lá fora um monstro de lágrimas, tenta esconder-se em frinchas infantis da rua. Sim também pode ser preciso chorar. As gotas da chuva continuam a rir-se, brincam em grupo, escorrem calçada abaixo.

2006/09/04

Repúdio pela palavra amor,
o mandamento dos novos tempos.

Corações desencarecerados: punição,
a pior de todas elas - desprezo.

2006/09/03

Agora

Não vou traçar, no mundo, linhas rectas.
É isto. É aquilo.
Sou só eu:
linha curva, esguia,
contornado as esquinas dos dias.
E perpetuando-me sobre os espinhos
posso ser tudo.
Um dia

Um ninho de tecido áspero,
o seu rosa pálido,
o rosto infesto com o teu sorriso,
o sarcasmo da tua voz.

Pinto este quadro
enquanto no meu peito se desenha
com metal rubro o pesado momento.

Auguraste as palavras,
palavras que pensaste
serem palavras postas em pedra.
Mordeste cada uma dessas sílabas,
cada nota desse canto,
um suspiro amargurado,
mas eram apenas peças de mim.

2006/09/01


Aqui sentada, estou quieta e ainda assim procuro esse ruído incessante. Esse pedaço de vulgaridade que aqui se encerra, mas que teimo em não reconhecer por detrás da minha cortina hoje púrpura e não azul.

Sou diferente das montanhas sendo igual a elas, lá no alto só, no sopé abençoada. Verde nestas palavras, grama, esconderijo de vida.

Ao longe ainda ouço... Já se ouvem fiapos da tua voz. E entre duas palavras solta-se um rasgo de adeus.

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