Alguém que me lê e eu não vejo.

2007/12/21

Even though I'll never need her,
even though she's only giving me pain,
I'll be on my knees to feed her,
spend a day to make her smile again
Even though I'll never need her,
even though she's only giving me pain
As the world is soft around her,
leaving me with nothing to disdain.

Even though I'm not her minder,
even though she doesn't want me around,
I am on my feet to find her,
to make sure that she is safe and sound.
Even though I'm not her minder,
even though she doesn't want me around,
I am on my feet to find her,
to make sure that she is safe from harm.

The sun sets on the war,
the day breaks and everything is new...


2007/12/20




Coração. Senescente. Meu.

2007/12/17

Despedida

Já te tinham dito isso: que viver não era simples, que muitas vezes ir-te-ias sentir sozinha. Mas nunca ninguém te tinha explicado o que era amar. Nunca ninguém te tinha dito que amar era morrer por estar só num beijo. Ninguém te tinha explicado que amar era a caminho de alguma coisa e que nos caminhos alguém se pode perder. Ninguém te explicou que amar era deixar alguém que não quer ser encontrado, completamente perdido. Ninguém te explicou que o amor nunca se multiplica por dois, mas que só se vive aos pares. Se ninguém te explicou, que não consegues fazer ninguém amar-te, como podias adivinhar que ele só gostava de ti? Como podias adivinhá-lo se além de gostares dele te tinhas envolvido nos farrapos azuis do amor?

E não sabias pois, não? Que no teu coração, o sorriso de alguém valeria todas as tuas lágrimas e a despedida de quem não quer partir. Nunca pensaste que para amares terias de dizer adeus e refugiar-te na beleza da tua memória.

2007/12/12

Feliz Natal

Desligas o som quando é demasiado doloroso ouvir. E tu? Tu não desligas o som, continuas sempre a ouvir as minhas lágrimas, mas nada consegues fazer com elas. O que poderias fazer senão ouvi-las? Não censuro nenhum de vocês. Ninguém está mais cansada dessas notas musicais agudas e crónicas em simultâneo.

Gostava de poder censurar a sorte, mas não a censuro. Quando ia desistir tive sempre segundas oportunidades, tive paciência e apoio mesmo ao meu lado. Sete anos depois, nada acrescentei ao mundo, nem nada poderei vir a fazer com o que aprendi. Não consigo aprender coisas novas porque não consigo vencer a preguiça e a desmotivação. Por isso, embora me apeteça esmigalhar a sorte, não é a ela que devo estas lágrimas e desespero de hoje. Não é à falta de sorte que devo este suspiro só. Não o devo a ninguém senão a mim, não devo esmigalhar ninguém senão a mim. Ao mesmo tempo queria reconstruir-me. Por vocês que ouvem ou não ouvem até ao fim as minhas lágrimas.

Achei que devia começar por fingir que estava intacta outra vez e não deu resultado. Agora ando à procura da primeira peça, deduzo que a primeira pode ser uma qualquer.

A este propósito, podem oferecer-me uma boa marretada na cabeça no Natal. e o meu desejo é reconstruir o pé direito a tempo de entrar com ele em 2008... pode ser que ainda vá a tempo. Obrigada!

2007/12/10

This is it

2007/12/09

Como houve palavras que quis fazer desaparecer deste blog, e como houve quem as tivesse lido sem poder reler, aqui vai: o meu pedido de desculpas. Deixo também a música que acompanhava as referidas palavras.


2007/12/02


O Afonso voltou à blogosfera! E obrigada por algo que "is allready saving my as", só espero ir a tempo!

2007/11/30



Obrigada tóxica sem grande toxicidade! :)
Legenda: indivíduo de tanga verde corresponde a ana, indivíduo de tanga laranja corresponde a menina_tóxica. Local de captação da imagem - Universidade do Minho. Repercursões - um hematoma em cada lobo temporal, um segurança engasgado de riso e a deslocação da terra 0,3º do eixo.

2007/11/26

Ainda bem que estás sempre por perto, quando és preciso! Hoje és preciso!



Agora só me falta o resto...

2007/11/22

Foi disto que me esqueci "*"! Acho que vai ter de ser desta que vou deixar de ficar despistada. F#$"-s#!

2007/11/21

How do you kill a dream?

Hum... aquele "C" espero que ninguém me prenda!


2007/11/19

Vaquices


Acho que o devia ao mundo. Talvez não ao mundo, mas ao mundo de uma menina bonita, cujo nome começa por R.

A história de uma vaquinha. A vaquinha que tinha nome de flor e foi comprada numa loja onde ficava ao lado dos ursinhos e das girafinhas e das ovelhinhas. Ela tinha uma grande família, ali na prateleira das vaquinhas era todos parentes. No entanto, tias, irmãs e primas não gostavam muito umas das outras. Mugiam noites a fio, só por causa de um cm de espaço no expositor.

A vaquinha que tinha nome de flor, ficava sempre atrás delas, era a mais nova de toas as vaquinhas e era arduamente protegida de uma possível compra pelos donos da loja. Por vezes a noite, era um túnel escuro e infernal, submerso em urros que substituiam os mugidos carinhosos que a vaquinha com nome e flor ouvia dantes. Aos poucos tornou-se insuportável, já não havia uma família de vaquinhas, mas grupos de vaquinhas em guerra. E a vaquinha com nome de flor começou a perder o seu sorriso bordado a linha cor-de-rosa.

Um dia uma menina de cabelos aos caracóis entrou a loja e viu a vaquinha que tina nome de flor. Escolheu-a porque tinha nome de flor e levou-a consigo. Todos lhe perguntaram porque tinha escolhido a vaquinha que não estava a sorrir e a menina respondia: porque quero ajudá-la a sorrir para depois sorrimos as duas juntas. Foi aí que a vaquinha percebeu que tina encontrado a família dela: a menina de cabelos aos caracóis e o cãozinho azul - o Patocha. Afinal a família não eram aquelas vaquinhas que discutiam, mas aquelas que precisavam dela e que lhe davam que ela precisava.

2007/11/17

Enregelada a matéria óssea continua a sobressair discretamente ao fundo a rua.
Gosta do Inverno, encoberta sobre o farfalho tiritante e humano, aguarda serenamente que gostem dela. Aguarda serenamente enquanto a metamorfose brota, ramificada como um raio efervescente, aguarda até não aborrecer mais o corpo que suporta, aguarda até não ser reconhecida.





Está farta de montanhas e de vales, de mar. Está aborrecida por, para ela, já serem banais os picos e os sopés. Mas estar no meio não a faz sentir-se bem. Mas não importa, na ausência de alma pode bem aguardar. Pode bem esperar que a chuva caia sem molhar a matéria que nela se transfigura.

2007/11/15

Espanto, do bom... ;)



"All my life I have been watching wildlife, and when I saw the kob in Sudan I said to myself, You can die now, Fay, you finally saw what you could have never imagined you would ever see on this planet." (J. Michael Fay, biólogo e explorador da National Geographic, sobre a migração em massa que se deu no Sudão: os animais retornam a casa depois a guerra civil terminar.)

2007/11/10

Foi assim que despertei, queria ver o sol através da janela e e ouvir aquelas palavras que já não ouvia há muito tempo. A música acompanhou mais ou menos este estado de espírio "vamos lá embora que se faz tarde, não é preciso mais motivo nenhum para ser bom estar vivo."


Hoje acordei profundamente infeliz, ao longo do dia tentei destruir esse estado mas em nenhum dos aspectos da minha vida consegui encontrar algo que me removesse o dito sentir.


Agora, à espera para mais um comprimido, esbocei um sorriso melancólico: reparei que a minha irmã deixou de propósito uma da vaquinhas na minha almofada! Está na hora de "wise up".

E ainda...

Este foi o primeiro post este blog, há cerca de cinco anos atrás. Achei engraçado colocá-lo aqui na sequência do post anterior:


O Fim do Princípio

Hoje começou uma nova sensação, a sensação de mundo... infinita, interminável, olhar de esfinge posto em mim. Em nós.
Hoje inaugurando este blog... derramo alguma tristeza, e encerro alguns sorrisos que aguardavam por ele.
Hoje iniciando algo, não sei como começar, nem como terminar. Mas sinto-me bem, porque isto toda a gente que conheço sabe.



Espero bem que ainda falte muitopara o pricípio do fim :)

Resposta a um belo desafio ;)

Foi por isso, foi por dias em que as lágrimas não secavam de modo nenhum, que o meu blog começou a existir. Sempre havia escrito algumas coisas tipicamente adolescentes: um diário, uns poemas, mas nada de especial. Até que, como resultado de um igualmente típico “broken heart”, me comecei a refugiar nas palavras. Inicialmente, em bloquinhos que me acompanhavam na solidão colectivas dos transportes púbicos e depois num blog.

Já teria ouvido falar em blogs, mas não usei o meu para aquilo a que estava habituada a ver (normalmente textos de opinião sobre temas dos mais variados), ao invés disso criei um espaço meramente narcisista, onde textos e poemas de costrução modesta se empilhavam num tom confessional que eu desesperadamente necessitava. Depositava-os no blog com uma noção muito vã de partilha mas que simultaneamente apagava a cobardia do dia-a-dia, a minha cobardia em assumir que de vez enquando queria deliberadaente estar triste. No sensação de mundo podia sê-lo sem cansar ninguém, nem a mim.
O blog permitiu-me começar uma sensação que tinha do mundo muito particular, com algo abstracto e de um modo que não fazia sentido para ninguém. Aliás algo que se mantém: ainda hoje aqui se encontram textos indecifráveis para muita gente e o mais divertido é que eu posso, porque quem me lê eu não vejo. O mais divertido é que posso não fazer sentido para ninguém, mas que para mim eu faço. O mais divertido é que todos os textos que se encontram no meu blog me libertaram de alguma forma. Mais extraordinário ainda é que conseguiram manter alguns leitores, a maior parte por uma bem-vinda amizade. Acima de tudo, o bom é que posso escrever mal porque não preciso de provar nada a ninguém, não preciso de ser nada diferente, não preciso de ser melhor e indubitavelmente o que escrevo fazer-me-á bem.

E assim nasce uma sensação de mundo, que se propõe exactamente a não fazer nada, excepto transmitir sensações que eu vivo. Egocentricamente elaborada para que ninguém tenha de gostar e sinceramente comovida quando alguém por aqui passa, porque passou pelo meu blog e por uma parte de mim que pouca gente ou ninguém conhece.

A minha navegação pela blogosfera é perfeitamente justificável com o exemplo do meu dia de hoje: um dia em que tudo o que me apetecia era estar num qualquer paraíso para os olhos a ouvir uma boa música, quentinha, aconchegad... mas como não posso começo a clicar desenfreadamente e tudo desaparece. A necessidade de viajar desaparece, porque de certa forma fiz pequenas viagens com paragem em alguns apiadeiros chamados posts.

Bom, tratado de botânica, este texto não cumpriu os tramites que deve seguir um ensaio ou reflexão mas penso que pelo menos consegui responder da melhor forma queconsegui ao teu desafio. Espero que valha o contributo e obrigada pela proposta! Aguardo ansiosamente mais resultados.

2007/11/03

Poema dum Funcionário Cansado


A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só
Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Por que não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Por que me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço
Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo numa só noite comprida
num quarto só.


António Ramos Rosa
Introdução

As almas sentem-se mas são indetectáveis à vista desarmada. Alguns estudos recentes demonstram que a alma se alimenta de uma postura de gratidão para com a vida e uma visão dominada pelo optimismo. Embora de grande abrangências, os referidos trabalhos partilham a ideia de que para se atingir a felicidade é necessário um esforço que a maioria dos seres humanos não está disposta a fazer.
Contudo, a alma não espelha unicamente um estado de espírito binário: estou feliz ou infeliz. Existem diversos estados, estados híbridos e ainda complexas misturas de vários estados híbridos. Sabe-se, ainda, que as almas (ou espíritos) apresentam uma elevada variabilidade na espécie humana e, por enquanto, ainda nao se conseguiu estabelecer a média para o seu tamanho.
Neste trabalho, pretendeu estudar-se a condição de uma alma humana escolhida ao acaso na população portuguesa.


Material e Métodos

O indivíduo seleccionado para o estudo expressou, através texto escrito, o seu estado de alma.

Resultados

Passa a citar-se o texto escrito pelo indivíduo quando lhe solicitado que descrevesse o seu estado de alma:

“Hoje não vejo a minha alma, não ouço a minha alma, não consigo falar sobre a minha e não sinto a minha alma. O meu estado psicológico geral é: assim assim. Sei apenas que queria passear ao Sol mas também queria ficar em casa a olhar para a chuva lá fora. Sei que hoje de manhã me caiu aos pés um fragmento invisível de sentimento que sabia a tristeza, mas não sei se seria angústia. Enquanto me penteava saiu-me um bocado de insegurança pelos ouvidos, e vinda dos olhos escorreu uma solução concentrada de alegria. Por volta da hora de almoço senti fome e notei também que tinha perdido três quartos de medo. Ao lanche já não sabia o que queria dizer a palavra melancolia, que uma senhora que cantava insistia em repetir. Mas a alma, pela noitinha, ainda não sabia ela. Depois fiquei por aqui a escrever sobre ela.”


Discussao dos resultados

Atendendo aos resultados obtidos, constata-se que o indivíduo não tem alma, não se sabendo em que cirscuntâncias a perdeu.
Conclui-se, assim, que a alma se pode perder, logo nem toda a gente tem alma. Estudos posteriores devem procurar evidências da recuperação da alma.

2007/10/31

Detesto. Tenho uma espécie de ruído aqui aninhado como um escravo. Perfeitamente educado para estar aqui sem se mexer. Um ruído agoirando um rompante selvagem que já não conhece. Este ruído urdido num vazio perdido no meu corpo, vazio esse que por vezes preferia recuperar. Um vazio que simulo instintivamente, mas que preferia não simular.


Não estou vazia, mas sinto-me como se estivesse.
Vazio que é cheio. Cheio de dias que vêm ter comigo cheios de abraços carinhosos fictícios e humanos, porque no fundo estou só. Porque quando devo estar acompanhada estou só. E quando estou só acompanho-me com pensamentos feéricos que me façam esquecer este ruído tão cheio de silêncio e que detesto, encontro-o debaixo das unhas e entre os cabelos, nas olheiras cinzento cada vez mais perto do negro. Queria um abraço ingenuamente animal, que não quisesse saber porque estou assim ou porque estou só, um abraço puramente abraço, movido por um detector não selectivo de solidão. Um algo sem destino, que me acompanhasse quando não estou acompanhada. Uns olhos sem serem olhos, pequenos e discretos, que me sorrissem assim que os recordasse. Uma simples recordação que não estivesse emaranhada em todo este barulho do qual não me consigo livrar.


"Tinha a certeza de que não iria precisar dele até ao fim dos seus dias."



Gabriel garcía Márquez, O amor em tempos de cólera (5ª linha, página 161)


passo a tarefa a nuvem_preta, nina_da_floresta e Afonso. Regulamento aqui.

O meu pai
deixa-me ir
para o violino.

Violino, violino,
violino, violino.

Eu.

Poema de Rita Sá.

2007/10/23

Quase tudo o que fizermos será insignificante,
mas é muito importante que o façamos.


M. Gandhi

Não demores o teu sentir nesse desgosto!

Passa tudo pelo corrimão abaixo da vida,

não percas esse tempo adjacente à tristeza,

urge voltares ao sorriso de vidro fosco!



Vem, à aldeia dos abraços transparentes

que só não vês porque te finges cego!



Não te damos o tempo que precisas para chorar,

porque lágrimas são más e as nossas mãos de cristal são boas.

Porque nós somos as horas e tu os minutos,

não fiques a limpar esse azul baço,

não precisas de levantar as rugas das tuas pálpebras.



Eu...

Mas eu... quero ser azul e ser baço! Só não o quero ser só.







2007/10/17


Este esquema representa o meu cérebro e as suas vivências nas próximas 24 horas.

2007/10/14

This is it.


2007/10/09



in http://postsecret.blogspot.com/

2007/10/08

Nunca mais me esqueci disto, esta deve ser uma canção tradicional ou de embalar. Julgo. Também poderá ser inventada, ou extremamente conhecida e eu não estar a reconhecer. Se vos fizer lembrar alguma coisa avisem-me, por favor.

Descansa meu querido descansa,
não te quero despertar,
vou para a cozinha trabalhando,
com vontade de chorar.

Irremediavelmente, quieta no meu canto, ouço ao longe a voz crédula, entoar um discurso já há muito iniciado:



Como quando o silêncio se funde com as palavras, sabes? Aquele silêncio que se mistura na sonoridade das palavras, que está por detrás de alguma sílaba mas não sabemos qual?

E quando o silêncio faz imenso barulho, também sabes? Quando a cama já tardia e o repouso aparente se esvaem na certeza do ruído ausente?

Hum… como um silêncio sepulcral encoberto por sons ensurdecedores...

Já sabes?

Ainda não.

Como quando um pano semi-transparente de seda plana sob uma água agitada e finalmente cai, sabes? Cai e não se molha todo duma vez. Molha-se aos poucos, não imerge, permanece sempre com a ameaça eminente de se perder para sempre no fundo oceano. Flutua indefinidamente. Pesando-lhe o facto de ser mais leve do que a água, percebes?

Não. Não compreendo.


Como quando roubas a atenção ao actor principal com um brutal ataque de tosse? E a tua saída se impõe? Mas tu não sais porque esperas, escusadamente, pelo fim de uma tosse que não cessa, evitas a saída inevitável?

Mas nesse caso talvez aguentasse a tosse até ao fim da peça.

E se não aguentasses? E se fosse impossível?

Saía.

Mas afinal o que se passa contigo?

Acho que pensas que fui embora, mas ainda aqui estou.


Como um beijo depois da despedida? Como um segundo de hidratação antes do deserto? Como duas mãos unidas por debaixo da mesa?

Não.

Como o perigo, debaixo da porta, esperando que escorregues no pavimento encerado? Esse mesmo, disfarçado de lantejoulas, para que não passe despercebido e que desse modo ninguém o receie?

Também não.

Então como?

Como um corpo gelado e imóvel, no qual está colado um cartaz com a palavra “Inviável” escrita. Como um corpo, que tem espírito, mas não consegue mostrar.

Ah! Então fica bem. Bem, como o mendigo, que dormiu na rua no dia de sol depois do dia de chuva.

Obrigada. Obrigada, como a pessoa de coração dilacerado.

2007/10/06

Era uma rapariga que gostava muito de escrever, mas raramente se satisfazia com o que escrevia.
Certa vez, em vez de escrever mais um dos seus poemas, em vez de acrescentar linhas ao eterno romance, em vez de mais uma história, escreveu o que mais gostara de aprender durante o seu tempo de vida. Tinha consciência de que não escrevera nada de especial e muito menos de original, mas que a fez sentir particularmente bem e viva. Passo a transcrever:

"Estas são as lições que mais gostei de aprender, sem qualquer ordem, senão a ordem através da qual elas fluíram através do pensamento:

Primeiro aprendi que gostar de alguém, é gostar de uma pessoa tal como ela é e não apesar do que ela possa ser.

A segunda grande lição é que as pessoas não mudam senão quando realmente assim o entendem.

A terceira lição é que sempre que esperei muito tive pouco, e sempre que esperei pouco tive muito. (sim, sim, eu sei que Pessoa já o tinha escrito. Este é, portanto, plágio é da pior espécie mesmo, duplo plágio: de escrita e de vivência)

A quarta é que sou muito melhor a ser o que sou do que a ser o que pareço ou quero parecer.

A quinta é que a solidão não é assim tão reconfortante como julgava e que um abraço vale uma infinidade de linhas escritas, um céu cheio de estrelas, música toda a noite e a poeira a assentar com a chuva de Verão.

Ainda aprendi que sempre que me enganei a mim mesma custou muito mais saber a verdade.

Aprendi que a modéstia é uma das características que mais aprecio nos outros e uma das que mais detesto em mim, simultaneamente.

Aprendi que nem toda a gente vai gostar de mim, mas que alguém há-de sobrar.~

Aprendi que as pessoas do autocarro ouvem o que falo com a pessoa ao lado, tal como eu as ouço, por vezes.

Aprendi que há mesmo pessoas extraordinárias, uma delas foi a que me deu à luz.

Aprendi a gostar de mim só para que tu, também gostasses e eventualmente hei-de apanhar-lhe o jeito.

Também aprendi que às vezes basta um sorriso alheio para me sentir viva.

Aprendi que ainda não aprendi a deixar as pessoas acabar todas as suas frases.

Aprendi que tudo que aprendi pode estar errado, mas o que sinto não.

Aprendi, por fim, que ainda falta muito para aprender."

2007/10/02

Alegro ma non troppo

O meu pensamento encontra as tuas mãos a envolver o molhado dos teus olhos. Sei apenas que, enquanto os encontrar, conseguirei sempre rasgar o meu sorriso cor de nada, transparente como a felicidade inesperada.

Pena a minha inspiração feliz se orquestrar com o suspiro que teme o barulho de beijos enrugados pelo tempo, o suspiro que teme a tua partida.

Quando fores, NÃO vás.

2007/09/29

Nascimento último

Como se não tivesse substância e de membros apagados.
Desejaria enrolar-me numa folha e dormir na sombra.
E germinar no sono,germinar na árvore.
Tudo acabaria na noite,lentamente,sob uma chuva densa.
Tudo acabaria pelo mais alto desejo num sorriso de nada.
No encontro e no abandono,na última nudez,
respiraria ao ritmo do vento,na relação mais viva.
Seria de novo o gérmen que fui,o rosto indivisível.
E ébrias as palavras diriam o vinho e a argila
e o repouso do ser no ser,os seus obscuros terraços.
Entre rumores e rios a morte perder-se-ia.


António Ramos Rosa
In: No Calcanhar do Vento, 1987

2007/09/26

Hoje sinto-me fraca por não saber como se escreve este sentimento de fraqueza. É quase macabra a quantidade de palavras bonitas que se podem usar para descrever algo tão vil.
Resta-me, portanto, a simplicidade das tábuas que suportam o meu colchão, que no Ikea se vendem separadas do resto da cama. Eu nasci separada das protecções laterais, de mim tudo jorra: bom e mau e o que está no meio e para lá disso. Nasci para suportar uma loucura que por aí anda espalhada e que é minha.
Mas amanhã creio que vou comprar um colchão feito de lata e aninhar-me no seu aconchego, dando-lhe a trivialidade do meu sustento. Espero que seja suficiente para arrancar um sorriso às suas molas, que a rectidão e que à simplicidade deste conjunto das minhas tábuas se lhe subtraia a fraqueza.

2007/09/25

Era uma rapariga que um dia, alguém, considerou eloquente. Todos os seus passos eram distintos, alinhados com uma ordem quase terna. Um dia, enquanto deslizava pela calçada de mármore, um os seus pés esguios por breves instantes enclausurado no interstício o pavimento alinhou-a de forma violenta com os carris do eléctrico. Foi uma diferença e segundos que lhe salvou as pernas da dilaceração.

Recuperou o pé do hiato imprevisto. Esgueirou-se por entre a multidão e nunca mais foi vista. Ninguém mais a viu, nem foi considerada novamente eloquente. Contudo, todos os dias passava na mesma calçada, prevenia-se das fendas com sapatos de homem e da erosão da elegância com um fato largo. Ocultou a beleza dos seus movimentos com a velocidade dos passos largos.

Assim continuou a chegar todos os dias à maresia rochosa do estuário: sem que ninguém a visse. Percebera no dia da queda que a invisibilidade lhe daria asas.e as suas asas levavam-na em direcção a tudo que sonhava, sem que nenhuma palavra precisasse ser dita.

2007/09/24

Fim do dia, eu, um poema em linha recta. Somadas a esta realidade algumas palavras que me chegaram. Um longo e lânguido suspiro, ansiava o seu regresso.

2007/09/22


MANISFESTO (anti) ALGO DE MIM
Hoje acusaram-me de fazer muitos filmes. Não foi a primeira fez que o fizeram, mais do que uma pessoa. Também já me acusaram de ser egocêntrica e de levar tudo demasiado a peito. E de forma a cultivar esse egocentrismo vou escrever mais uma vez a falar de mim.

Sim, é verdade, por vezes dizem-se coisas sem segunda intenção sem significado nem significância. Por vezes dizem-me coisas para que eu as modifique e não para me colocarem em causa. E muitas vezes sinto-me atacada e sem paciência. Muitas vezes, muitas, interpreto determinadas frases como criticas.

Como daquela vez em que me disseste que não beber com os amigos era mau devido ao facto de ser um acto social. Eu interpretei isso como sendo tu a chamares-me anti-social. Sim, vejo aí o exagero da minha parte. Ou quando a minha chefe me questionou sobre o meu mapa poder estar incorrecto, quando eu sabia que não o estava, respondi-lhe imediatamente que não sou maluca para inventar mapas. Quando, no fundo, ela queria apenas certificar-se de que estava correcto.

Por todas estas particularidades que acabam por se tornar generalidades, peço desculpa ao que sofrem com ela. Desculpem aqueles que, injustamente, “sofreram” os meus rompantes defensivos.

À parte disso, futuramente, estes meus sentimentos serão pensados até desaparecerem. Porque realmente existem sentimentos que não se devem manifestar! Assim terá de ser se quiser sobreviver a todos os níveis, incluindo o da minha própria sanidade mental.
Está, assim, dito.

2007/09/19


E hoje foi aqui que estive a passear só. As coisas assim sabem a menos!

2007/09/17

Está frio para não usar mangas.

Pela janela ousa o latejar dos veículos, dos seus motores com combustão inexorável.

E os violinos em surdina, gritam anunciando a sua derrota.

Um canhão dispara e resplandecem, banhos de sangue castanho em forma de cítara.

Os ouvidos cegam a boca de quem sente os tiros.

Tiros são limpos, distantes, poemas e filosofia.

Morte é música, pintura e romantismo.

Eu sou pólen infértil e sem destino.

Tudo a uma só imagem, a um só segundo, a uma só loucura.

Raramente falo, senão de sentimentos, e raramente uso outro tom que não o confessional. Mas hoje apetece-me falar de algo que vi e ouvi.

Esta imagem composta por três quadros da Paula Rego intitulados “Pillowman”, foi-me dada a conhecer pela menina tóxica (que de tóxica não tem nada). Falou-me destas telas enquanto conversávamos sobre a peça do mesmo título, escrita por Martin McDonagh.

No meu imaginário, o homem almofada é cinzento mais claro, com a cabeça maior e mais redonda. A roupa do meu homem almofada é azul clara e o seu sorriso ainda mais reluzente. Eu sei que Pablo Neruda adorava azul porque azul era a cor da felicidade. Mas para mim o suicídio infantil é azul claro, a profissão do homem almofada tem um uniforme azul claro e a ausência de céu é tão azul e tão clara como a presença de céu e sol. A vida do homem almofada era o sofrimento, e a sua remoção das vidas pelo suicídio prévio, um suicídio preventivo da dor. O homem almofada como o mensageiro da dor. A sua história tocou-me como já há muito este coração tão era tocado. E a recusa de Michael perante o homem almofada, a sua aceitação de uma vida de sofrimento em nome da prevalência das histórias do seu irmão. A renúncia de Michael em nome da prevalência do próprio homem almofada. Um homem feito de almofada, fofinho, para a vida doer menos, de um modo tragicamente azul.

E Paula Rego exímia a transmitir a dor com as suas cores. Cores diferentes, mas a mesma dor.

2007/09/16

Afinal agora tive saudades das minhas bolinhas!

Ana igual a si mesma!

2007/09/10

Novo visual, as bolinhas começavam a cansar-me! :)

2007/09/09

2007/09/08

O mais belo! Não resisti!


Se eu tivesse aqui ficado, também eu teria perdido propositadamente a minha vulnerabilidade.
Começo a conhecer-me. Não existo.
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,
ou metade desse intervalo, porque também há vida ...
Sou isso, enfim ...
Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelos no corredor.
Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo.
É um universo barato.


Álvaro de Campos, às vezes também preciso dele e de um universo barato.

2007/09/07




You Belong in Paris



You enjoy all that life has to offer, and you can appreciate the fine tastes and sites of Paris.

You're the perfect person to wander the streets of Paris aimlessly, enjoying architecture and a crepe.

2007/09/06

Há momentos em que sinto tudo ao de leve, como se palavras, notas, fossem um sopro a tocar ao de leve na pele e a deixar um arrepio em tempo de calor. Uma sensação aprazível: uma pequena manta de tecido e brisa a envolver-me.

Não é isso que se passa quando ouça a Mercedes Sosa. Com ela é impossível sentir o morno do dia.

"Ay este azul... que é um verde também!""

Talvez... a minha eterna imagem


2007/08/27

A imagem recorrente neste blogue: a montanha. O vale presta-lhe o seu tributo diário, como nada nem ninguém jamais faria. E o vale, esse, é beijado incessantemente pelo rio. Esse rio cuja obtusidade dos ângulos não quer ser percebida, não deixando, contudo, de engrandecer e sublimar cada recanto do vale. Unidireccional, este afecto, jamais exige retorno.

2007/08/23

Josef: I thought um, you and I, maybe we could go away somewhere. Together. One of these days. Today. Right now. Come with me.
Hanna: No, I don't think that's going to be possible.
Josef: Why not?
Hanna: Um, because I think that if we go away to someplace together, I'm afraid that, ah, one day, maybe not today, maybe, maybe not tomorrow either, but one day suddenly, I may begin to cry and cry so very much that nothing or nobody can stop me and the tears will fill the room and I won't be able to breath and I will pull you down with me and we'll both drown.
Josef: I'll learn how to swim, Hanna. I swear, I'll learn how to swim.




in A vida secreta das palavras
de Isabel Coixet

2007/08/15


Quinze.

Agosto.

2007.

23:30

Missão: exterminar, sem qualquer retalho de misericórdia, a gritante saudade que tem vivido dentro de mim!
Este blogue já deu que tinha a dar, bem como a minha passagem pela escrita. Ainda assim continua a fazer-me bem. Ainda assim alguns visitantes me acompanham nesta causa quase sempre errante e pelo tempo que aqui perdem mutio obrigada!


PS: hoje estou de uma lamechice só!

2007/08/13

Sabonete...


Ainda não encontrei a interjeição correcta para descrever o curto trilho que percorri até bifurcar com o teu caminho. Deparei-me contigo e com o sabonete em que tropecei: aquele que aparentemente te guarnece agora. O mesmo que parece afagar-te os banhos mornos nas noites mais recentes. Inocência! Será o mesmo sabonete? Aquele que num instante partido pelo tempo fez com que esse meu pé delizasse de forma desconcertante? O mesmo com perfume quase de anis, quase esverdeado… como o reflexo da montanha no teu cabelo? Não pode ser! Não pode ser aquele que me purificava a alma e em seguida me perseguiu a queda precipitada sobre a terra molhada!


Não encontro a interjeição. Talvez o sabonete seja realmente o mesmo. Tavez na minha inconsciência tenha sido por isso que me estendeste a mão: para me levantar da humidade da terras e da viscosidade dos vermes. Mas nada perdi, só ganhei as cores, a perfeição do solo em que caminho. Os meus pés imundos e descalços, percorrem com fervor noutra direcção, inspiram no sopé da montanha a erva pulsante sob eles. A água deixou de ser tépida mas a pele não é mais sensível.

2007/08/09

Meia coisa




Foi assim que me descobri. A música intermitente, as notas e a pauta descaída. O som entusiasta a decair… o decadente olhar da janela em buscar de algo que brilhe no céu: meia estrela. Falta-me… a outra metade, de uma coisa qualquer.

2007/08/06


Nós e a partida.
Já pensaste?
Na sua tirania?
Nós e a partida constante, sucessiva…

Ontem; os teus braços.
Amanhã: prelúdio do regresso.
O encanto do regresso,
a grandiosidade dos abraços
e os beijos de algodão,
arrebatadores como os primeiros.

2007/08/04

Em resposta ao desafio da menina tóxica aqui vai a lista dos 5 últimos livros que li:

5- "O mundo dos outros" de José Gomes Ferreira
4- "A ignorância" de Milan Kundera
3- "A espuma dos dias" de Boris Vian
2- "The ten trusts" escrito pela Jane Goodall
1- "Vinte poemas de amor e uma canção desesperada" de Pablo Neruda

2007/06/06

creio nos anjos que andam pelo mundo,
creio na deusa com olhos de diamantes,
creio em amores lunares com piano ao fundo,
creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes;

creio num engenho que falta mais fecundo
de harmonizar as partes dissonantes,
creio que tudo é eterno num segundo,
creio num céu futuro que houve dantes,

creio nos deuses de um astral mais puro,
na flor humilde que se encosta ao muro,
creio na carne que enfeitiça o além,

creio no incrível, nas coisas assombrosas,
na ocupação do mundo pelas rosas,
creio que o amor tem asas de ouro. amém.


Natália Correia

2007/05/20

Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Ridícula. Confiava que, repetida indeterminadamente, acabasse por perder o sentido. Não perdeu.

2007/05/12

VII - Da Minha Aldeia


Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...

Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe
de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos
nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.


Alberto Caeiro


PS: este poema foi-me trazido por uma pessoa que não é especialmente divertida, mas especialmente mal disposta.
Observo a poda daquela árvore no jardim em frente. Desbravada hoje, avultar-se-á, vigorosa, amanhã.
Admiro através da janela o rasto fino do dia, tão acanhado quase como se não tivesse sido um dia, talvez mais um sopro de horas, um adicionar de tempo somente. É belo, sim: a luz mingua paulatinamente, este silêncio pautado pelas aves harpejando melodias compostas, sinonimas de vento ameno e cor-de-rosa no horizonte. Repleta de beleza e tão cheio de nada para acrescentar ao mundo, senão trivialidades.
Assim terminará a minha vida, farta de beleza vaga arredada a um canto, e sem nada acrescentar a nada, um nada profundo. Não era minha intenção despedir-me cheia de lágrimas vazias. Não era. Queria despedir-me com um sorriso, com um lenço na mão, cheio de sal absorvido. Tencionava despedir-me sem vontade de despedidas. Dispensar a palavra adeus sem vontade de a dispensar. Não aconteceu desse modo. Embarco numa auto-distituição. Que afinal talvez seja aquilo que não “sobremereci” neste percurso: o direito assentido de partir.

2007/05/06

Reencontro

Umas depois das outras, as letras, as palavras vão-se compondo. Tento encontrar alguma ordem, o melhor local, mas quando elas saem directamente da corrente sanguínea para as teclas, acaba por desvanecer e criar um algo praticamente aleatório, reduzido em criatividade. Falta-me o tempo que ingeri entre suspiros ou lágrimas vãs, pulso os segundos azulados, ausentes, até aqui chegar descoordenada. Acerco-me deste momento, em que volto timidamente ao compasso, enlaço-o. Entorpecida, reencontro-me com o meu canto.

2007/03/25

"We cannot walk alone"


Encontrei esta imagem e decidi que tinha de pôr aqui. No caminho, lembrei-me de Martin Luther King, e da sua frase no meio de um sonho que ele teve.

2007/03/24

Toda as mulheres podem ser a mulher do poema de Ruy Belo. Todas foram a mulher do poema do Riuy Belo alguma vez. Ainda que apenas aos seus próprios olhos. Outras são ela, e não o vêem. Ficam aqui as palavras...

"Contigo aprendi coisas tão simples como
a forma de convívio com o meu cabelo ralo
e a diversa cor que há nos olhos das pessoas
Só tu me acompanhaste súbitos momentos
quando tudo ruía ao meu redor
e me sentia só e no cabo do mundo
Contigo fui cruel no dia a dia
mais que mulher tu és já a minha única viúva
Não posso dar-te mais do te dou
este molhado olhar de homem que morre
e se comove ao ver-te assim presente tão subitamente"

2007/03/23

And again...




Mais uma vez as palavras distorcidas, mais do que as escondidas, tropeçam escadas abaixo. As palavras pouco importam. O verde erguido perante azul, o cume, é mais. Será sempre mais, porque assim afirma perante as ervas. Assim as ervas acreditam que são árvores e a montanha acredita que é sol. E eu, lua nova, sob céu nublado, à espera de me rever no brilho de um olhar perdido naquele passeio junto ao rio. Somente esperando. Somente esperando.

2007/02/28

Singular. Cabelos sob a lua. Espalhada na especiosidade da cidade. Transbordante de si, evaporava-se nos seus próprios beijos. Por vezes, esgotava-se pelas ruas fora. Assobiava-se e prostrava-se, simultaneamente perante o tempo. Mais perante o tempo do que perante o espaço, o espaço não lhe servia nos pulsos. Quem a via queria ser tempo, refugiar-se na sua invisibilidade refulgente. Aconchegar-se na sua magnitude, para reter um pouco do seu olhar.

Especial, o desejo no recanto de cada ser. Ser especial. Querer ser tempo e ser espaço.

2007/02/23

O sal da língua


Escuta, escuta: tenho ainda
uma coisa a dizer
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo,
não mudará
a vida de ninguém - mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco mais.
Palavras que te quero confiar,
para que não se extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua.




Para uma menina, do Eugénio de Andrade e passando por breves instantes pelas pontas dos meus dedos :)

2007/02/22

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Álvaro de Campos

2007/02/11

Sol e mundo peneirados pelas nuvens, pulverizados com gotas de água, aconchegados na mesma nota, a mesma tecla pretaum tom mais acima. Nada mais poderia ser cenário, para a minha vela ser estrela, a tua ausência sorriso e a caneta no papel a tua mão na minha.

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