Alguém que me lê e eu não vejo.

2007/02/28

Singular. Cabelos sob a lua. Espalhada na especiosidade da cidade. Transbordante de si, evaporava-se nos seus próprios beijos. Por vezes, esgotava-se pelas ruas fora. Assobiava-se e prostrava-se, simultaneamente perante o tempo. Mais perante o tempo do que perante o espaço, o espaço não lhe servia nos pulsos. Quem a via queria ser tempo, refugiar-se na sua invisibilidade refulgente. Aconchegar-se na sua magnitude, para reter um pouco do seu olhar.

Especial, o desejo no recanto de cada ser. Ser especial. Querer ser tempo e ser espaço.

2007/02/23

O sal da língua


Escuta, escuta: tenho ainda
uma coisa a dizer
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo,
não mudará
a vida de ninguém - mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco mais.
Palavras que te quero confiar,
para que não se extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua.




Para uma menina, do Eugénio de Andrade e passando por breves instantes pelas pontas dos meus dedos :)

2007/02/22

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Álvaro de Campos

2007/02/11

Sol e mundo peneirados pelas nuvens, pulverizados com gotas de água, aconchegados na mesma nota, a mesma tecla pretaum tom mais acima. Nada mais poderia ser cenário, para a minha vela ser estrela, a tua ausência sorriso e a caneta no papel a tua mão na minha.

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