Alguém que me lê e eu não vejo.

2005/05/29

Junto ao rio passa-se de um modo desigual.
Uns passam a amar.
Outros passam presos nas suas considerações metafísicas.
Outros passam e quedam,
Dando oportunidade ao rio para os fazer sentirem-se menos.
Outros permitem-se passar indiferentes ao mundo.
Mas junto ao rio não se passa como se passa na rua.
São os ares do rio, concretos, que se tocam,
Inspirando a liberdade de cada um passar apenas com aquilo que é,
Expirando o peso de não se ter aquilo que não pode ter.
São as correntes do rio com aquilo que nelas se deposita:
Noites de amor, lágrimas, sabores, cópias perdidas de pessoas,
Todos encurralados no compasso do tempo.

2005/05/09

Encontrei-te mais uma vez, abandonado de palavras minhas... de todas as palavras já ditas e que colava em ti, nem essas que habitavam nos desertos de ninguém, te consigo voltar a dizer.

E não é de vazio que se trata: é dispersão. Dispersão de um emaranhado de teias que rarefeitas rapidamente dão lugar a outras. Que nunca chegam, porque vêm de longe, postas em gotas de água que se esvaem nos sonhos de um amanhã.