Chove na cidade onde penas de aves apressadas, em busca de abrigo, flutuam comandadas por um vento ameno. A chuva cai sem força mas cai convicta. Os autocarros deslizam nas ruas para que as pessoas possam chegar a algum lado. Um casal de gaivotas foge das turbulências do oceano, procurando o aconchego de um beiral. O vigor da água caída do céu escuro aumenta numa cadência típica dum crescendo musical...
Todo este cenário se reflecte em mim através de quatro pedaços de vidro que constroem uma janela. O edifício que me acolhe encerra décadas de lágrimas e sorrisos, de suspiros e de palpitações... de empenho árduo e suave boémia. Resguardo-me, aqui sentada, onde começou a Universidade do Porto, no edifício vulgarmente chamado “Leões”: uma alusão pertinente à fonte que banha a sua entrada principal. A fonte onde lamentações se afogaram e onde começaram algumas existências... águas onde couberam muitos mundos ansiosos de vida e conhecimento. Caminho pelos corredores imensos, que já deixaram de ser labirínticos, e estórias renascem com palavras repletas de esperança. Recantos sensuais onde começaram longas uniões. Bancos onde escorreram prantos de desânimo e que ouviram repetidos cânticos de orgulho. Estes locais que somados me têm ajudado a ser um pouco maior e que recordarei com as palavras, os aromas e a sensação de frio no Inverno. É reconfortante estar aqui, encostada a este granito secular, a esta janela enriquecida pelo mundo, pois cada murmúrio de existência neles gravado amplifica cada segundo dos meus horizontes tremidos.
2 comentários:
Poix, é desses momentos quase nostalgicos, que nascem grandes memórias, boas ou más de uma faculdade secular, que eu n tenho a sorte ou azar de ter.
A minha faculdade foi construida no ano do meu nascimento, n tem piada :P
Quando eu tiver oportunidade de me deslocar a essa bela cidade k é o Porto, depoix peço-te uma visita guiada ao departamento de Biologia :)
beijinhos****
Olá linda...
Sempre cumpriste o prometido: um post sobre os (nossos) Leões! E tinha de ser um post romântico, intenso e doce como tu!
É, de facto, um lugar que encerra mundos e abre outros, traz lágrimas de tristeza e de alegria; e, como bem referiste, naqueles escuros (misteriosos?) corredores já nasceram tantos novos amores (como o meu, exactamente lá, naquele corredor dos rés-do-chão que liga a sala dos computadores até os antigos laboratórios de biologia (acho eu!))...
1001 beijos para ti! ;)
James
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