Alguém que me lê e eu não vejo.

2005/01/24

Fotografia.

Olhei para nós. Havia passado mais de um ano desde que aquela imagem tinha sido, por nós, raptada do tempo equilátero.
Os teus olhos falavam, diziam que queriam escapar por entre o magnetismo daquela noite directamente para a seguinte noite... num passo mágico de adormecer e acordar. Diziam-me que estavas ali e que talvez um futuro inebriado trouxesse de novo aos teus olhos a vontade de falar daquele modo, para mim. Os teus olhos falaram para o futuro, falaram para que, inadvertidamente hoje, pudesse fitá-los, na ausência da tua presença, e me lembrasse que naquele segundo, todos os teus sentidos foram meus. Gritavam: Conseguirás sempre despir a felicidade como despiste hoje os teus receios ingénuos de viver.
Os meus olhos não diziam nada, encostavam-se a um infinito distante, de mágoas adivinhadas. O sorriso do meu rosto vivia o momento, os meus olhos avistavam as paisagens desérticas, ao entardecer, nas arestas geladas da minha almofada triste, nas minhas mãos que sentiriam a falta do teu toque... todo aquele que tinha absorvido antes.
A tua mão na minha cintura, a eterna inocência dos meus olhos fechados para prolongar, no percorrer do sempre, o som ondulante de um “clic”.

1 comentário:

Miguel Gonçalves disse...

Deliciosa... como sempre!!
1001 beijos só para ti, Claúdia! :)