Tu.
Riste enquanto davas aqueles passos.
Não estudei as respostas do teu corpo.
Mas lembro-me do escorrer do teu riso visceral enquanto davas aqueles passos. Como eu os recordo!...
Como eu os recordo?
Cada passo uma pequena agulha a trespassar o calibre dos meus ossos. Irriguei dentro de mim o teu riso com lágrimas e medula.
Estavas só. Mas a palavra só é a palavra só para ti, nada mais. No dia antes do dia. Foste encontrar-te ali.
Ali reencontraste a dor e eu vi-te.
Temo em ti essa solidão.
Temo-a em mim, entranhada no meu egocentrismo cutâneo.
Reconheço que a tua essência cheira a baunilha e não a pobreza.
Reconheço que te banhas num mar muito mais completo que eu, com mais jóias e mais corais. Reconheço-te a brisa dos passos.
Reconheço-te nos passos que eu não teria dado.
Reconheço aqueles que, como tu, caminham.
Aqueles que como tu caminham.
Reconheço os que se repetem, como tu e eu.
Reconhecer não é tornar-te importante, mas visível.
Agora já te conseguimos ver.
Nunca ninguém te pôde roubar a ausência de luz.
1 comentário:
"Reconheço-te nos passos que eu não teria dado." Reconhecer-mo-nos nos outros por aquilo que não somos, não possuímos. Pelas escolhas que não tomámos, pelas escolhas que nc poderíamos ter tomado,pelos dilemas nunca por nós vividos... Reconhecer-mo-nos na ausência de nós no outro,muitas vezes, faz-nos ver a presença que em nós não víamos...e aí reside a importância de tudo o que não somos nós.De tudo que é o outro.
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