Houve um dia em que adormeceste a pensar que eu estava ao teu lado. Que imprudência! Não o terias feito, talvez, se soubesses que eu adormecia todos os dias a pensar que estavas ao meu lado.
Escrevi estas palavras e olhei para elas sem as ler. Assim, sem a observação mais cuidada, elas pareceram-me afinadas e ajustadas, certas para caberem dentro da realidade. Contudo, não cabem dentro de mim, ou não podem caber. Só porque já não estás comigo, as palavras já não me servem. O ar já não me serve.
É tudo o que consigo escrever, o que dirias se soubesses destas palavras. Tens que ir para a cama cansada, cansada de mundo, cansada de corpo, cansada de perceber, cansada de ilusão, assim tão profundamente cansada que já não consigas pensar.
Se existir verdade, eu quero que a minha verdade seja o que dirias se soubesses destas palavras.
Alguém que me lê e eu não vejo.
2004/02/26
2004/02/19
Insónia
No silêncio escuro e frio, sentia um à frente do outro. Ambos gelados, os meus pés, fincavam-se, com cada vez mais força, ao solo aparentemente macio e morno. Estremeci, soprou uma brisa fresca, olhei para eles, um à frente do outro, presos no chão da noite. Não se moviam, não seria com certeza esse o seu objectivo, eles pediam um caminhar sereno até ao aconchego da cama, mas eu permanecia ali, imóvel.
Eu buscava sensações, tudo o que pretendia era buscar algo mais para sentir, abusar dos meus órgãos sensoriais, abusar do meu coração. Queria inundar o espírito, ocupá-lo com sensação para não mais pensar, para me abstrair de tudo o resto. No meu quarto adormecera a solidão. Enquanto ali no corredor, permaneciam ares quentes do burburinho diurno, mantinha-se ali um sopro de calor humano das pessoas que tinham por lá passado durante o dia. Havia uma ilusão de que não estava só. Procurei não pensar, mas acabou por acontecer porque os pés são fracos e levaram-me no seu cansaço para o quarto adormecido e para a cama repleta de um aconchego cínico. Foi quando me ouvi murmurar: "Sou igual a todas as pessoas, aprendi a conviver com o medo."
No silêncio escuro e frio, sentia um à frente do outro. Ambos gelados, os meus pés, fincavam-se, com cada vez mais força, ao solo aparentemente macio e morno. Estremeci, soprou uma brisa fresca, olhei para eles, um à frente do outro, presos no chão da noite. Não se moviam, não seria com certeza esse o seu objectivo, eles pediam um caminhar sereno até ao aconchego da cama, mas eu permanecia ali, imóvel.
Eu buscava sensações, tudo o que pretendia era buscar algo mais para sentir, abusar dos meus órgãos sensoriais, abusar do meu coração. Queria inundar o espírito, ocupá-lo com sensação para não mais pensar, para me abstrair de tudo o resto. No meu quarto adormecera a solidão. Enquanto ali no corredor, permaneciam ares quentes do burburinho diurno, mantinha-se ali um sopro de calor humano das pessoas que tinham por lá passado durante o dia. Havia uma ilusão de que não estava só. Procurei não pensar, mas acabou por acontecer porque os pés são fracos e levaram-me no seu cansaço para o quarto adormecido e para a cama repleta de um aconchego cínico. Foi quando me ouvi murmurar: "Sou igual a todas as pessoas, aprendi a conviver com o medo."
Pensei em ti
Não chega. Pois não.
Eu sei.
Já estive aí.
As minhas lágrimas
escorreram no segundo em que me vim embora.
Agora, aqui sentada
junto ao correr do rio,
rodeada pelo ar gelado do Inverno,
cerco-me com o meu jeito triste,
a angústia que me faz suspirar,
que me faz temer cada um dos teus gestos.
Porque tu não sabes.
E eu não sei.
Choramos, cada um afinado
em prantos diferentes,
que se completam.
Se quisesses eu podia sorrir-te.
Sorriamos os dois.
Os dois. Nós.
Mas nós já não existimos.
Existe uma sombra, uma sombra vaga,
que chega voraz e foge.
Sem destino.
Foge e não volta... para sempre.
O vento ingénuo persiste e eu com ele.
E tu?
Tu estás aí, imparável
por detrás de uma cortina
Transparente.
Quando te toquei pensei sentir-te,
mas senti-te pensando.
Acordei. Já tinhas partido.
Como te vou dizer que persisto?
Que estou aqui...
...se o frio, o Inverno,
as horas geladas,
nos ensurdeceram?
Não chega. Pois não.
Eu sei.
Já estive aí.
As minhas lágrimas
escorreram no segundo em que me vim embora.
Agora, aqui sentada
junto ao correr do rio,
rodeada pelo ar gelado do Inverno,
cerco-me com o meu jeito triste,
a angústia que me faz suspirar,
que me faz temer cada um dos teus gestos.
Porque tu não sabes.
E eu não sei.
Choramos, cada um afinado
em prantos diferentes,
que se completam.
Se quisesses eu podia sorrir-te.
Sorriamos os dois.
Os dois. Nós.
Mas nós já não existimos.
Existe uma sombra, uma sombra vaga,
que chega voraz e foge.
Sem destino.
Foge e não volta... para sempre.
O vento ingénuo persiste e eu com ele.
E tu?
Tu estás aí, imparável
por detrás de uma cortina
Transparente.
Quando te toquei pensei sentir-te,
mas senti-te pensando.
Acordei. Já tinhas partido.
Como te vou dizer que persisto?
Que estou aqui...
...se o frio, o Inverno,
as horas geladas,
nos ensurdeceram?
pReCiSo dE Ti
Estava escuro mas eu acreditava que podia ver. Na verdade, sentia algum aconchego, a temperatura morna deslizava no meu corpo fluido do qual não me lembro. Sentia-o apenas. Continuava a não ver nada mas nunca nada foi tão nítido. Ouvia, um som que não consigo esquecer. É como se estivesse mergulhada numa grande profundidade algures num oceano e estivesse atenta escutando correntes. Isto é a memória de uma sensação, não o sonhei, é a memória mais antiga que possuo.
Depois disto veio uma total inconsciência, devem ter-se passado anos até eu me recordar do quadro de lousa e do alfabeto ainda imitado e difuso, sem qualquer sentido. Agradava-me agradar.
E antes?... antes estava o não existir. Como pode alguém recordar-se de não existir? É nítido: é não ser, escuridão e abstracção total, o vácuo a pairar numa dimensão que não é conhecida, é desconhecido e eu lembro-me. E toda esta loucura escreve-se com medo que eu acredite nela... com medo que nunca ninguém a leia, nem mesmo eu. E esta noção é profundamente triste e causa em mim quase como que um conhecimento prévio da morte. É isto, que me faz querer escrever mais e mais, porque a morte é apenas aquilo que cala.
Sempre que todas estas imagens me surgem penso que a morte lhes é semelhante e que se as tenho é porque algo em mim me quer lembrar que um dia não vou poder falar, nem escrever, nem tocar. Então quero fazê-lo mais do que nunca. Escrever, premir tecla a tecla... e dar sentido a palavras embora o sentido não seja comum. O sentido é apenas meu. Sei que mais ninguém compreende tudo isto. Porque o dom da palavra não é meu. Nem as palavras são minhas. Apenas o sentido é realmente meu. Resta-me, pois continuar...É triste! No limite, tudo o que nos resta é continuar. Porque se não continuarmos acabamos. “Para a frente é que é o caminho.” “Anda para a frente que atrás vem gente.” São as pessoas que dizem. Às vezes tenho receio que estejamos todos a deixar qualquer coisa de lado, a esquecermo-nos dos desvios e não respeitar as curvas. Vinte e quatro linhas a divagar, ando em círculos para fugir do que perturba cá dentro.
Continuar em frente...
Estou aqui e parei. A angústia e o cansaço apoderaram-se de mim.
Agora já não sou sozinha, tenho a alma para desculpar as minhas tormentas! Como se alguém já não me quisesse e isso me fizesse bem... é como se só agora, eu percebesse o que realmente preciso. E eu preciso de ti.
Estava escuro mas eu acreditava que podia ver. Na verdade, sentia algum aconchego, a temperatura morna deslizava no meu corpo fluido do qual não me lembro. Sentia-o apenas. Continuava a não ver nada mas nunca nada foi tão nítido. Ouvia, um som que não consigo esquecer. É como se estivesse mergulhada numa grande profundidade algures num oceano e estivesse atenta escutando correntes. Isto é a memória de uma sensação, não o sonhei, é a memória mais antiga que possuo.
Depois disto veio uma total inconsciência, devem ter-se passado anos até eu me recordar do quadro de lousa e do alfabeto ainda imitado e difuso, sem qualquer sentido. Agradava-me agradar.
E antes?... antes estava o não existir. Como pode alguém recordar-se de não existir? É nítido: é não ser, escuridão e abstracção total, o vácuo a pairar numa dimensão que não é conhecida, é desconhecido e eu lembro-me. E toda esta loucura escreve-se com medo que eu acredite nela... com medo que nunca ninguém a leia, nem mesmo eu. E esta noção é profundamente triste e causa em mim quase como que um conhecimento prévio da morte. É isto, que me faz querer escrever mais e mais, porque a morte é apenas aquilo que cala.
Sempre que todas estas imagens me surgem penso que a morte lhes é semelhante e que se as tenho é porque algo em mim me quer lembrar que um dia não vou poder falar, nem escrever, nem tocar. Então quero fazê-lo mais do que nunca. Escrever, premir tecla a tecla... e dar sentido a palavras embora o sentido não seja comum. O sentido é apenas meu. Sei que mais ninguém compreende tudo isto. Porque o dom da palavra não é meu. Nem as palavras são minhas. Apenas o sentido é realmente meu. Resta-me, pois continuar...É triste! No limite, tudo o que nos resta é continuar. Porque se não continuarmos acabamos. “Para a frente é que é o caminho.” “Anda para a frente que atrás vem gente.” São as pessoas que dizem. Às vezes tenho receio que estejamos todos a deixar qualquer coisa de lado, a esquecermo-nos dos desvios e não respeitar as curvas. Vinte e quatro linhas a divagar, ando em círculos para fugir do que perturba cá dentro.
Continuar em frente...
Estou aqui e parei. A angústia e o cansaço apoderaram-se de mim.
Agora já não sou sozinha, tenho a alma para desculpar as minhas tormentas! Como se alguém já não me quisesse e isso me fizesse bem... é como se só agora, eu percebesse o que realmente preciso. E eu preciso de ti.
2004/02/10
Alguma Metodologia de Análise de Genes e seus Produtos... O livro está à minha frente, já vou lê-lo.
Pus-me a falar comigo própria, discuti intensamente a economia mundial. Como se eu tivesse palavras com gabarito tal para discutir um tema profundamente complexo como este! Não faz mal... só eu é que ouvi. GGRRR!A raiva explode dentro de mim:pessoas atormentadas, vivem delírios realistas que só elas entendem. Comunicam-se na sua própria gíria libresca, erudita quiçá.... e ninguém os compreende, nem a sua profunda amargura, inatingível, em que mergulham fugindo de mundos que os trespassam como punhais. Quando soletramos algo na nossa linguagem primitiva soa-lhes ao longe um eco de sátira, que disfarçam cm frases de compreensão e murmúrios que afagam a nossa burrice. Ou será a deles?
Sim... somos ignorantes, gritamos para que ouçam bem. E pedimos imensa desculpa... hoje não, não vamos salvar o mundo, nem vamos traçar estratégias intelectualmente eficazes para o fazer. Hoje vamos ficar a ler sobre genética, mas não queremos cultivar-nos. Queremos olhar para o rio e senti-lo. E não vamos falar disso, porque não é preciso e porque há dias em que não precisamos de saber se Deus existe, há dias em que queremos prosseguir errantes, em que queremos usurpar a cidade e queremos ser fracos e fáceis.... porque ser um enigma nem sempre nos torna mais apetecíveis de decifrar. Não. Hoje não vos podemos ajudar a sentir bem, porque hoje nos sentimos mal. Com uma revolta profundamente infantil e triste.
Hoje acordamos depois de sonhar com a igualdade feérica. Hoje acordamos e desiludimo-nos... como vocês! Depreendemos, do ar frio da manhã, que há coisas que jamais se conseguem abrigar e as nossas feridas (como as vossas) provam-no. Não há feridas boas. Não existem. Hoje acordamos e despertamos para nós , valorizamo-nos e erguemo-nos da cama como quem ergue a voz, para entoar: "Hoje não me consegui ajudar, mas também não te vou ajudar a sentir inteligente!!!"
E pessoas estúpidas NÃO há, reticências... Há apenas pessoas que desistem, ponto final.
Hoje começou uma nova sensação, a sensação de mundo... infinita, interminável, olhar de esfinge posto em mim. Em nós.
Hoje inaugurando este blog... derramo alguma tristeza, e encerro alguns sorrisos que aguardavam por ele.
Hoje iniciando algo, não sei como começar, nem como terminar. Mas sinto-me bem, porque isto toda a gente que conheço sabe.
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