Alguém que me lê e eu não vejo.

2004/02/19

Insónia


No silêncio escuro e frio, sentia um à frente do outro. Ambos gelados, os meus pés, fincavam-se, com cada vez mais força, ao solo aparentemente macio e morno. Estremeci, soprou uma brisa fresca, olhei para eles, um à frente do outro, presos no chão da noite. Não se moviam, não seria com certeza esse o seu objectivo, eles pediam um caminhar sereno até ao aconchego da cama, mas eu permanecia ali, imóvel.
Eu buscava sensações, tudo o que pretendia era buscar algo mais para sentir, abusar dos meus órgãos sensoriais, abusar do meu coração. Queria inundar o espírito, ocupá-lo com sensação para não mais pensar, para me abstrair de tudo o resto. No meu quarto adormecera a solidão. Enquanto ali no corredor, permaneciam ares quentes do burburinho diurno, mantinha-se ali um sopro de calor humano das pessoas que tinham por lá passado durante o dia. Havia uma ilusão de que não estava só. Procurei não pensar, mas acabou por acontecer porque os pés são fracos e levaram-me no seu cansaço para o quarto adormecido e para a cama repleta de um aconchego cínico. Foi quando me ouvi murmurar: "Sou igual a todas as pessoas, aprendi a conviver com o medo."

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