Alguém que me lê e eu não vejo.

2004/02/19

pReCiSo dE Ti

Estava escuro mas eu acreditava que podia ver. Na verdade, sentia algum aconchego, a temperatura morna deslizava no meu corpo fluido do qual não me lembro. Sentia-o apenas. Continuava a não ver nada mas nunca nada foi tão nítido. Ouvia, um som que não consigo esquecer. É como se estivesse mergulhada numa grande profundidade algures num oceano e estivesse atenta escutando correntes. Isto é a memória de uma sensação, não o sonhei, é a memória mais antiga que possuo.

Depois disto veio uma total inconsciência, devem ter-se passado anos até eu me recordar do quadro de lousa e do alfabeto ainda imitado e difuso, sem qualquer sentido. Agradava-me agradar.

E antes?... antes estava o não existir. Como pode alguém recordar-se de não existir? É nítido: é não ser, escuridão e abstracção total, o vácuo a pairar numa dimensão que não é conhecida, é desconhecido e eu lembro-me. E toda esta loucura escreve-se com medo que eu acredite nela... com medo que nunca ninguém a leia, nem mesmo eu. E esta noção é profundamente triste e causa em mim quase como que um conhecimento prévio da morte. É isto, que me faz querer escrever mais e mais, porque a morte é apenas aquilo que cala.

Sempre que todas estas imagens me surgem penso que a morte lhes é semelhante e que se as tenho é porque algo em mim me quer lembrar que um dia não vou poder falar, nem escrever, nem tocar. Então quero fazê-lo mais do que nunca. Escrever, premir tecla a tecla... e dar sentido a palavras embora o sentido não seja comum. O sentido é apenas meu. Sei que mais ninguém compreende tudo isto. Porque o dom da palavra não é meu. Nem as palavras são minhas. Apenas o sentido é realmente meu. Resta-me, pois continuar...É triste! No limite, tudo o que nos resta é continuar. Porque se não continuarmos acabamos. “Para a frente é que é o caminho.” “Anda para a frente que atrás vem gente.” São as pessoas que dizem. Às vezes tenho receio que estejamos todos a deixar qualquer coisa de lado, a esquecermo-nos dos desvios e não respeitar as curvas. Vinte e quatro linhas a divagar, ando em círculos para fugir do que perturba cá dentro.

Continuar em frente...

Estou aqui e parei. A angústia e o cansaço apoderaram-se de mim.

Agora já não sou sozinha, tenho a alma para desculpar as minhas tormentas! Como se alguém já não me quisesse e isso me fizesse bem... é como se só agora, eu percebesse o que realmente preciso. E eu preciso de ti.

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