Alguém que me lê e eu não vejo.

2004/04/16

Então vamos lá! Vamos escrever as nossas memórias. Só para nós. Chiuuuu! Ninguém pode ouvir, temos que falar baixinho... Vamos para ali, para aquele cantinho, traz a lanterna... cuidadoooo! Ninguém pode ver, temos que estar alerta... Agora pega na caneta (não te esqueças que o mundo que inventamos para ser nosso cabe aí dentro) e deixa que a sua tinta se espalhe como os teus dedos quiserem. Não te esqueças, a seguir sou eu!! Chiuuuu!

2004/04/15

Hoje resolvi ser eu,
resolvi portanto nada ser.
Se nada fui hoje,
nada era ontem
e se o nada é vazio,
é ausência de tudo...
então tudo até agora foi nada.
Todavia se eu não fui possível até hoje,
aqui nesta realidade,
então fui-o em alguma,
caso contrário,
estaria apenas hoje a inventar-me?

Entorpecida... é assim que me invento.
Mergulhada no mar dos adjectivos,
a poder pensar que os posso escolher.
A ter de me ter, para me saber existindo.
E a rir, desmedida de consciência.

Para finalizar, solto a final gargalhada indiferente.
Encosto-me a uma parede.
Não é do mundo que me rio, é de mim.
Fito a rua passante,
e espero que ela venha ter comigo.

2004/04/04

oNtEm


Quis que os abismos da loucura se fundissem,
que a penumbra dos olhares tristes se dissipasse,
que o frio em peles arrepiadas esmoreçesse,
quis ver o nevoeiro dos sepulcros emergir.

Quis ver nítida, ao fundo,
uma espiral convergir para um só ponto,
esse lugar que me faria lembrar
que tudo se pode tocar:
Serenidade e Adversidade,
Tumultos e Silêncios,
Tu Eu e Mundo.
hOjE


Cheguei e sentei-me,
num cantinho escondido.
Não é de alguém que
me escondo.
É de mim, do
modo como me sinto.
Inebriada, cruzos os dedos
e tenho fé de não me
voltar a encontrar.
Nem a mim, nem a
este coração solto
que vagueia em mim.
Porque é ele, que na noite,
vem ter comigo e
diz baixinho tudo
aquilo que nunca
quis escutar...
que repete sem cessar
a ilusão, o sonho
tudo aquilo em já tropecei.

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