É por alguns instantes esta sensação de que nas veias corre sangue misturado com ilusão, com vontade e com esperança. A inspiração de uma criança que salta por cima das nuvens cor-de-rosa. No fundo é disto que eu falo, do que pode não ser palpável, do que pode não se beber, do que pode esgueirar-se por entre grãos de poeira. Falo daquilo que também pode encostar-nos a uma parede, tela negra forrada de veludo azul, e espremer-nos até ao fim. Mas do que falo não interessa se não o digo...
.... manhã de Outubro: chuva, tapetes de tule branco, passeios encobertos por mantos de pessoas encasacadas. Sinto-me como se não me sentisse, caminho como se voasse, e acomodo-me no muro de pedra polida resguardada por um alpendre familiar, mas que não pertence a ninguém. Alojo-me na vontade de querer repatir-me e ir de encontro a todos os lados. Quero percorrer caminhos até chegar mais longe e mais alto, onde não estou. Quero invadir cada pessoa com o meu sorriso, o meu gesto, o meu sobrolho fransido.
Mas não vou, não percorro, não invado.Será mesmo que o mundo, que os lugares, que as pessoas já têm suficiente de mim?
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