Alguém que me lê e eu não vejo.

2007/09/17


Raramente falo, senão de sentimentos, e raramente uso outro tom que não o confessional. Mas hoje apetece-me falar de algo que vi e ouvi.

Esta imagem composta por três quadros da Paula Rego intitulados “Pillowman”, foi-me dada a conhecer pela menina tóxica (que de tóxica não tem nada). Falou-me destas telas enquanto conversávamos sobre a peça do mesmo título, escrita por Martin McDonagh.

No meu imaginário, o homem almofada é cinzento mais claro, com a cabeça maior e mais redonda. A roupa do meu homem almofada é azul clara e o seu sorriso ainda mais reluzente. Eu sei que Pablo Neruda adorava azul porque azul era a cor da felicidade. Mas para mim o suicídio infantil é azul claro, a profissão do homem almofada tem um uniforme azul claro e a ausência de céu é tão azul e tão clara como a presença de céu e sol. A vida do homem almofada era o sofrimento, e a sua remoção das vidas pelo suicídio prévio, um suicídio preventivo da dor. O homem almofada como o mensageiro da dor. A sua história tocou-me como já há muito este coração tão era tocado. E a recusa de Michael perante o homem almofada, a sua aceitação de uma vida de sofrimento em nome da prevalência das histórias do seu irmão. A renúncia de Michael em nome da prevalência do próprio homem almofada. Um homem feito de almofada, fofinho, para a vida doer menos, de um modo tragicamente azul.

E Paula Rego exímia a transmitir a dor com as suas cores. Cores diferentes, mas a mesma dor.

5 comentários:

menina tóxica disse...

oh. e se me contas mais uma vez a história do homem almofada acho que desato noutro pranto.

*

Ana disse...

Agora só ouvirás a história do homem almofada pelas palavras de katurian. essa sim, digna de todas as nossas lágrimas e sorrisos :)

Anónimo disse...

Ao que foi dado a entender, uma vez que não o conheço pessoalmente, não me importava de ser o Homem Almofada do Homem Almofada. Esse sim merecia ser aniquilado.

Quem não saborear o sofrimento jamais sufocará com a felicidade.

Ana disse...

Zé latoeiro: infelizmente há quem só saborei sofrimento, felizes aqueles que têm ambos.

Eu sou uma dessas pessoas com sorte!

Happy and Bleeding disse...

já me desataste a curiosidade pelo livro :)

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