Alguém que me lê e eu não vejo.

2008/04/06

Será que realmente já gastámos tudo? Sim gastámos as teclas do telemóvel, gastámos os olhares e os sorrisos. Mas não gastámos as lágrimas e não gastámos as horas em silêncio. Gastaste as palavras simpáticas, gastaste a vontade de olhar para mim e me ver, gastaste a paciência. Gastaste o amor, as carícias, o tempo. Não gastámos o sol, mas a vontade simultânea de encontrarmos juntos.

Gastámos aquelas tardes em que o mundo era um mero acaso que tinha aparecido nas nossas vidas. Só não consigo gastar este vazio. Quero vendê-lo a retalho. Quero leiloar a tua ausência. Quero ficar sozinha apenas porque não tenho ninguém. Prefiro não ter nada do que parecer que tenho alguma coisa. Prefiro chorar por estar perdida do que por não me quereres encontrar.

6 comentários:

nuvem_preta disse...

claro que estas tuas palavras só me poderiam remeter para o meu eugénio de andrade e para o tão subejamente conhecido mas sempre magnífico

Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mão à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

E deixo-o aqui com a certeza esperançosa de que as tuas palavras não serão um adeus ma stalvez um até já ou até logo!

Ana disse...

Parece que foi um: até um dia!

menina tóxica disse...

o mal dos vazios. acho que nem a retalho os conseguimos vender, ou impingir a alguém. estamos cheios deles.

bjo tóxico*

A.G. disse...

o mal dos vazios é que nos são sempre impigidos por alguém ou algo... e não os conseguimos vender seja de que maneira for porque estes tornam-se profundos em nós... e porque quem, ou o quê, nos tranfere os vazios fá-lo inconsciente... talvez tenhamos também criado vazios...


"ana" está lindo, lindo, lindo, mas a sua beleza adevém de vazios, ora porra...

ejossss

Ana disse...

O que vale, são os vossos comentários , e vocês, para irem preenchendo estes vazios. :)

rita disse...

estou à espera que sem dar por isso, me encontre nesse vazio.

ficou lindo o que escreveste. tanto pela forma como puseste o sentimento como pelo que dele fizeste. e se calhar não percebes o que quero dizer mas, tocou-me mesmo, mesmo.

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