Euforia dos dias que chegam, sem que lhes peça coisa alguma... que chegam porque nascem assim, e porque morrem para que outro dia nasça. Quando recordo, esta sobreposição de momentos, em dias em que não me apeteceu ser, em que não me apeteceu conhecer, em que não me apeteceu pensar no que haveria de chegar, sinto-me resumida. Os dias que chegam, os dias que hão-de vir... esses engrandecem-me, fazem-me sentir maior.
Uma semana, um amontoado de horas inesgotáveis, cansadas, que me trouxeram até aqui. O início de outro amontoado de horas, em que posso fazer com que o mundo mude, em que posso não fazer nada. Em que posso morrer. É a ideia dessas horas, em que sei que posso receber o teu abraço, em que posso chorar junto a ti... ou em que me posso rir contigo, em que posso sorrir a outra pessoa, em que me posso deslumbrar convosco, é a ideia de que posso existir, que se encontra comigo agora.
Neste momento em que soube que nunca perderei o suficiente para igualar o sabor de ter ganho todas as presenças que me rodeiam.
Alguém que me lê e eu não vejo.
2004/03/29
2004/03/22
2004/03/16
Apetece-me escrever um poema
Não, não é um poema que escrevo.
Sim, sim as minhas frases começam
muitas vezes com não.
Como se negar, negar-me,
fizesse sentido,
tanto sentido como
manter o silêncio
por detrás das palavras.
Por isso não escrevo um poema,
não escrevo coisa alguma,
escrevo a negação
de tudo aquilo que poderia escrever.
Talvez nem escreva...
murmuro assobios acobardados
de paixão, de pessoa fruste,
de olhares enternecidos
com o simples,
com a rua,
com os cheiros crús do mundo,
com as navegações intempestivas
que um sorriso pode ter,
com as flutuações de uma voz tremida,
de uma voz que quer chorar.
Vou espreitando, de esguelha,
o mundo,
vou acumulando as sensações,
que encontro ao subir as escadas,
a pegar numa criança ao colo.
Prossigo escutando,
aprendendo o que escuto.
Deixo-me deslumbrar.
Penso-me sólida e firme
ou a desfazer por dentro,
mas nunca me vou pensando bem.
Caminho sem tocar o chão,
rebolo montanhas abaixo e rio-me.
Nada. Deixo-me sentir vazia.
Preencho-me.
Divago, permito-me fazê-lo.
Sinto-o com permissão.
Aprovo-me.
E os dedos continuam a correr teclados,
a deslizar com tinta.
Preocupo-me.
Padeço, com lágrimas.
Preciso de encontrar-me com a manhã,
com a noite.
Preciso reecontrar-me
com a sensação de reecontar.
Finalmente, detenho-me.
Risco um toque da minha consciência,
guardo-o na memória,
sem que me aperceba.
Falo.
Escrevo. Amo-te.
Despeço-me.
Entrego-me a alguém,
mesmo que na ilusão,
pois nem sempre sei o que fazer comigo.
Cuido ter tanto, mas tanto!
Perco-o.
Detenho-me novamente.
Recolho-me.
Uso verbos sem cuidado,
nem carinho.
Alongo-me perdida, nos meus olhos pesados...
em minutos sentidos.
Não leio.
Abandono estas palavras.
Deixo-as para quem
tropeçar nelas,
as palavras que são calçada molhada,
que já foram chuva,
que já foram nuvem,
que já foram mar.
Não, não é um poema que escrevo.
Sim, sim as minhas frases começam
muitas vezes com não.
Como se negar, negar-me,
fizesse sentido,
tanto sentido como
manter o silêncio
por detrás das palavras.
Por isso não escrevo um poema,
não escrevo coisa alguma,
escrevo a negação
de tudo aquilo que poderia escrever.
Talvez nem escreva...
murmuro assobios acobardados
de paixão, de pessoa fruste,
de olhares enternecidos
com o simples,
com a rua,
com os cheiros crús do mundo,
com as navegações intempestivas
que um sorriso pode ter,
com as flutuações de uma voz tremida,
de uma voz que quer chorar.
Vou espreitando, de esguelha,
o mundo,
vou acumulando as sensações,
que encontro ao subir as escadas,
a pegar numa criança ao colo.
Prossigo escutando,
aprendendo o que escuto.
Deixo-me deslumbrar.
Penso-me sólida e firme
ou a desfazer por dentro,
mas nunca me vou pensando bem.
Caminho sem tocar o chão,
rebolo montanhas abaixo e rio-me.
Nada. Deixo-me sentir vazia.
Preencho-me.
Divago, permito-me fazê-lo.
Sinto-o com permissão.
Aprovo-me.
E os dedos continuam a correr teclados,
a deslizar com tinta.
Preocupo-me.
Padeço, com lágrimas.
Preciso de encontrar-me com a manhã,
com a noite.
Preciso reecontrar-me
com a sensação de reecontar.
Finalmente, detenho-me.
Risco um toque da minha consciência,
guardo-o na memória,
sem que me aperceba.
Falo.
Escrevo. Amo-te.
Despeço-me.
Entrego-me a alguém,
mesmo que na ilusão,
pois nem sempre sei o que fazer comigo.
Cuido ter tanto, mas tanto!
Perco-o.
Detenho-me novamente.
Recolho-me.
Uso verbos sem cuidado,
nem carinho.
Alongo-me perdida, nos meus olhos pesados...
em minutos sentidos.
Não leio.
Abandono estas palavras.
Deixo-as para quem
tropeçar nelas,
as palavras que são calçada molhada,
que já foram chuva,
que já foram nuvem,
que já foram mar.
2004/03/15
Será suficiente? Não. Não quero que me chames "amor". Faz-me sentir demasiadamente bem. Prefiro que não mo digas. Beija-me, só. Mas não me chames... não o faças!
Quando o fizeste, subiu de mansinho em mim a vozinha tendencialmente nascida para te retribuir a designação. Não te pude chamar "amor", não pude... porque quando tu o fizeste foi como atirar uma palavra para a rua, quando lhe chovesse em cima deixavas de a ver. Mas se eu o dissesse escorreria do meu para o teu olhar e provalmente não ias perceber que nem as minhas lágrimas iriam lavar o significado dessa palavra. Prefiro levar apenas o teu beijo, mas a palavra amor não a quero levar comigo, não outra vez. Prefiro repousar no eco que ela ainda faz dentro de mim e que de dia para dia é cada vez mais baixo... que cada dia ouço com mais dificuldade. Que um dia esquecerei como disseste, desprovido de sentido, insípido.
Amigo, ao entardecer nos jardins, ao lado do lago e falar de fotografia. É assim que tenho de te guardar.
Quando o fizeste, subiu de mansinho em mim a vozinha tendencialmente nascida para te retribuir a designação. Não te pude chamar "amor", não pude... porque quando tu o fizeste foi como atirar uma palavra para a rua, quando lhe chovesse em cima deixavas de a ver. Mas se eu o dissesse escorreria do meu para o teu olhar e provalmente não ias perceber que nem as minhas lágrimas iriam lavar o significado dessa palavra. Prefiro levar apenas o teu beijo, mas a palavra amor não a quero levar comigo, não outra vez. Prefiro repousar no eco que ela ainda faz dentro de mim e que de dia para dia é cada vez mais baixo... que cada dia ouço com mais dificuldade. Que um dia esquecerei como disseste, desprovido de sentido, insípido.
Amigo, ao entardecer nos jardins, ao lado do lago e falar de fotografia. É assim que tenho de te guardar.
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