Alguém que me lê e eu não vejo.

2004/05/29

És incontrolável. És contagiosa.
És um tabique vertical com contornos dos mais simples, onde se acumula a fuligem dos anos.
És capaz de corromper o pôr-do-dol, de esconder na noite a linha luminosa que transparece pela janela.
Hipnótica, embargas a minha existência desde que te conheço, desde que a minha memória remota me permite vislumbrar a tua imagem.
Hoje, estonteante, a tua presença ofoscou-me,fez com que imergisse no mar glacial do teu sorriso.
Contudo, não deixei que me resgatassem de ti.

E ainda te chamam verdade!!!
Que palavra tão pura e tão macia para descrever uma realidade tão feroz e tão pouco subtil! Tens tal envergadura nas frases das pessoas que por aí ouço palrar que não transpareces jamais tudo aquilo que podes ser:

...certeira...
...afiada...
...entorpecida de tanta dor e desprezo.

Não conheces a dor refinada do vulnerável corte que deixas no vulnerável tecido por onde passas.
Oh lâmina que trespassa seda, hoje fragmentaste-me, fizeste-me tropeçar no caminho, deixaste-me nua à tua mercê, à tua vontade de pudor ausente!
Todavia não te recusei. Se assim vieste foi para que me espalhasse sobre mim mesma.

1 comentário:

Phyllophryne scortea disse...

Muitas vezes a verdade é como dizes, cortante, fria...
Numa posicao mais positivista, podemos sempre reconhecer que embora, relativa, a verdade é sempre necessaria para dar logica e sentido ao nosso dia-a-dia.
Como sempre continuo apaixonado pelo teu blog,
continua a escrever :) **********

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