Alguém que me lê e eu não vejo.

2004/08/04

Porquê não sei. Talvez essa seja mais uma pergunta sem sentido. O porquê não sei, de facto, mas perdi-me no meio de tudo isto: que era suposto ser vivido e ser sentido. Limitei-me a ir indo, sem grandes precipitações mas quando dei por mim, uma a uma, as pessoas tinham ficado para trás. Estava só e tudo em meu redor não era senão uma redonda capa de breu na qual eu me embrenhava sem qualquer receio.
E agora que me apetece voltar? Agora depois de ter entornado muitas das minhas lágrimas, que caminhei tanto que o fôlego começa a faltar-me, agora o que farei?
Não hesito demasiado. Faço aquilo que alguns momentos me ensinaram até hoje: rastejo pelos sorrisos que me acolhem, limpo algumas das lágrimas que vejo chorar sem me dar conta que estou profundamente vazia. Do mais triste é sentir que cumpro a minha tarefa: existo. Sob que forma, se bem ou se mal, nem sequer questiono muito. Está demasiado apertado o nó desta gravata que todos os dias ato à minha garganta. Aperto-o bem para que ninguém ao querer arranjar-mo me sufoque. Aperto-o bem para calar estes gritos pavorosos de dor que estoiram dentro de mim. Está demasiado para eu continuar a existir sem ser nada. E peço a quem nunca assim se sentiu que venha aqui e se sente ao meu lado e me ofereça umas palavras coloridas num dia qualquer inesperadamente.

2 comentários:

Carla Veríssimo disse...

inesperadamente, num dia qualquer, venho aqui.
dizer que já me senti assim, porque também eu existo; que os seres humanos são essa raça peculiar, que sentem as mesmas coisas, mas em 'dias quaisquer' diferentes, e inesperadamente ou não...
...sento-me ao teu lado... com umas palavras coloridas ...

Ana disse...

Há situações em que muitas palavras acabam por não mostrar aquilo que se pode dizer com um simples: obrigada. Pelas palavras coloridas e pela tua delicada atenção.

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