Ainda é cedo. A noite é irremediavelmente quente... pelos temas que por ela se vão arrastando, por algumas ideias que se deixam debater quase sem força.
Equilíbrio. A palavra que mais tem sido lançada, que tem ficado a pairar nos canais auditivos dos presentes até acabar por se deturpar e perder o sentido.
O efeito de expressões como "motivação política" ou "tipo especial de violência" parece ser evidente. Quer deixá-las a pensar. Anula as pessoas. Aterroriza-as. Mas em poucos segundos resguardam-se nos seus escudos invísiveis que só elas julgam existir. É o poder do pânico, a preguiça de querer saber algo mais. A certeza de que num qualquer instante se assegura algo imprevisível, desconcertantemente avassalador. Mas é precisamente esta certeza de nada, que nos reconforta...
"Pode ser aqui!" O coração palpita. "Mas dificilmente será comigo." O coração sossega. "Até pode nem ser. Quem é que disse?" O coração suspira. Sorri-se.
Seguem-se mais expressões, mais risinhos... linhas soltas: "Prudência."
Sai-se. A sensação de que realmente o mais forte vence o mais fraco prevalece.
O vislumbrar do bom e do mau varia consoante o lado em que se está. Ignora-se muito.
Então vulgarizamo-nos rua abaixo, rimos de alguém que ouvimos. Os nossos pensamentos misturam-se com o vento: num de nós fica a violência do hoje, noutro fica o que faz sofrer, em mim a falta de clareza nos objectivos e em ti a guerra assimétrica. Eu continuo a pensar sobre as pessoas serem pessoas e sem, no entanto, saber definir pessoa.
No dia a seguir informar-nos-emos, para combatermos o vazio do desconhecido. Mas rapidamente ficaremos inundados, até uma próxima que acreditamos que nao vai acontecer. Porque não queremos.
Luminoso o meu olhar acaba por pertencer apenas ao céu escuro sob as estrelas, para trás estão expressões e ideias.
Fico eu e o mundo discreto.
Alguém que me lê e eu não vejo.
2004/05/24
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1 comentário:
Cláudia, isto está.... lindo.
Só... lindo.
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