Alguém que me lê e eu não vejo.

2004/06/15

Já tive mesmo aquela sensação de ter chegado ao fim de mais um caminho. Um fim onde cheguei exausta, num daqueles dias em que o sol dilacerante arde na pele, beija os nossos movimentos e os prende, deixando-os pesados. Então, de imediato, senti um certo alivio: afinal tinha chegado ao fim de um caminho cansado e precisava de devolver o fôlego à minha respiração apressada. Foi a sensação de um fim harmonioso.


Nem sempre é assim.


Certa vez seguia eu, caminhante, ora por mantos de paisagens verdejantes ora por vielas profundas de bruma negra, tentando encontrar o dono de um perfume que me preenchia todos os instantes da minha existência. Continuava, no encalço daquele destino abstracto, dentro das noites em ruas despovoadas e dos dias pelas calçadas que gritavam. Tudo em meu redor se adicionava ao meu ritmo incessante, que me levava sempre na mesma direcção.
Até ao dia em que, sem ter chegado a um beco nem a um desfiladeiro, soube que tinha chegado ao fim. Soube-o porque o sentido se tinha varrido daquele abstracto destino para o qual caminhava. E tudo o que parecia óbvio se desvaneceu e o odor, o rasto intenso daquele perfume que eu procurava, desapareceu. Gelifiquei perante a certeza paralisante de que não existia alguém a quem aquele aroma pertencesse. Mas não sei quem me trouxe esta certeza. Pergunto-me ainda como é possível sentir aquele odor feérico por vezes?... aqui, em mim... se nunca lhe toquei., se não toquei na essência de onde ele chegava. Mas foi essa essência que me guiou e foi ela que me trouxe de volta, intacta, com vontade de perdurar na busca mas com a lágrima de resignação. Deixou-me sem caminho. Cheguei ao fim do caminho, sem terminar a busca, sem me fatigar. Mas tenho passos, tenho muito ainda que alcançar.

5 comentários:

Anónimo disse...

As palavras dizem tanta coisa, e em certos momentos ficar calada é a grandiosidade de poder dizer tudo sem esquecer de nada. Sem dúvida que sentir orgulho não chega, porque o que sinto na alma é bem maior´, é bem mais bonito. E tanta beleza petrifica o olhar de qualquer um, muito mais o meu. Eu gostava de ter sido como tu. Gostava de ter tido o Mundo para abraçar, de ter tido a vontade de o fazer... Mas tu és tudo isso, és muitoooooooooooooooooo mais.
Obrigada por ter o privilégio de partilhar contigo as mesmas teclas do teclado, obrigada por saber que mais que tudo nesta vida, valeu a pena ter tido os meus dezoito anos, e ter tido uma filha tão linda como tu... A emoção é muita, não consigo deixar de contar aos quatro ventos, que sou a mãe mais feliz do planeta. por ti, valeu tudo a pena. Simplesmente obrigada.

Marcita disse...

Oi, tudo bem ?
a sensação de chegar ao fim é o que eu sinto todos os dias....mas nunca é harmonioso

Anónimo disse...

mas quem é este caramelo que fala de... nada?

Iconic disse...

Lol... há pessoas doentes, e este cantor pimba... enfim, olha, é um cantor pimba!...
Ai, que a vida tem destas coisas... :S

Phyllophryne scortea disse...

Ha pessoal k lamentavelmente n fala do k sabe, nem sabe do k fala... se ao menos houvesse censura nos comments...

Continua a escrever como só tu sabes, para me inspirares...
Pode ser que um dia o meu blogue chegue aos calcanhares do teu em qualidade poetica...

Quanto ao texto em si, felicito-te por, embora normalmente não se gosta do k acaba desilusóriamente, sempre acabaste com "a sensação de um fim harmonioso"

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