Alguém que me lê e eu não vejo.

2007/05/12

Admiro através da janela o rasto fino do dia, tão acanhado quase como se não tivesse sido um dia, talvez mais um sopro de horas, um adicionar de tempo somente. É belo, sim: a luz mingua paulatinamente, este silêncio pautado pelas aves harpejando melodias compostas, sinonimas de vento ameno e cor-de-rosa no horizonte. Repleta de beleza e tão cheio de nada para acrescentar ao mundo, senão trivialidades.
Assim terminará a minha vida, farta de beleza vaga arredada a um canto, e sem nada acrescentar a nada, um nada profundo. Não era minha intenção despedir-me cheia de lágrimas vazias. Não era. Queria despedir-me com um sorriso, com um lenço na mão, cheio de sal absorvido. Tencionava despedir-me sem vontade de despedidas. Dispensar a palavra adeus sem vontade de a dispensar. Não aconteceu desse modo. Embarco numa auto-distituição. Que afinal talvez seja aquilo que não “sobremereci” neste percurso: o direito assentido de partir.

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