Alguém que me lê e eu não vejo.

2005/08/24


E depois chegam esses dias, enfeitados com a bruma inequívoca, que cheira a escárnio inteligível em todos os cérebros por aí. O que não falta são cérebros e carne, carne por aí, carne que queima, que se debate ofegante, por um lugar melhor, por mais minutos, por mais horas inventadas, estropiadas. O que não falta é carne e o que não falta é alma... nem carne, nem alma, nem coração. Nada parece faltar. Nem se vai embora esse debate cruel, entre os vales e as montanhas, não desaparecem os vales que querem chegar às montanhas nem as montanhas que se querem desprover da sua imponente e irredutível beleza só porque se sonharam vales um dia.
Esquecem-se mesmo de que são banhados pela mesma água? Que são a mesma carga positiva, em qualquer canto, a atrair a carga negativa? Em qualquer pulmão, em qualquer cristal, em qualquer punhado de terra? Quando me esqueço disto, e são muitas as vezes, em que os fiapos de tudo o que é resto estão impregnados na minha existência, em que sei que sou menos. Esqueço-me que tudo tende a anular-se para se estabilizar e que isso significa vencer.
E chegam mais dias em que sei que choro só porque parecem não existir sinapses a levarem-me até junto de ti, mas desfiladeiros, intransponíveis pelo meu constante receio, por tudo aquilo que é orgânico em mim e que, mesmo sem querer, me esmaga. E escorre o sangue em vez da metafísica, e escorrem as lágrimas em vez dos números e transpiro em vez de pensar. E sinto, de uma forma tão dementemente avassaladora, como caminhar sobre bocados de vidro cortantes, já banhados no meu sangue. E no fundo, tudo se conduz a uma demência temporária e somática que se nutre graças a um somatório enxovalhado de páginas insignificantes.

2 comentários:

Anónimo disse...

GOSTEI MUUUUIIIITO... queria dizer algo mais, mas acho k nada acrescentará ou colocará em palavras o k foi sentido ao ler o k escreveste...
Gostei mesmo Muito... Escreves MUITA bem.. acredita nisso, tal como acredito em ti..

agora um segredo :p
A amizade está no olhar de cada um nós e é durante o silêncio que te olho e entendo que uma amizade assim não acaba.

Anónimo disse...

vês? apesar desses dias chegarem, sempre, mesmo que não os chamemos com a voz, nem lhes acenemos com o braço nem os invoquemos com o silêncio do coração eles vêm.sempre.e mesmo assim, deixemo-los vir.deles nascemos nós outra vez.a cheirar a papel e com veias e músculos feitos na hora, no minuto no segundo da criação metafísica.e não é sangue rubro que lhes corre sem parar mas sangue negro, de tinta sintetica.e, nestes dias, deixemos o orgão propulsor de rubor encher-se de metafísica negra...e assim, tornarem-se as palavras o sangue e o cérebro...o motor da vida!apesar de tudo...bem haja estes dias

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