Alguém que me lê e eu não vejo.

2005/09/01

Virei a esquina e vislumbrei a Sagrada Família majestosa, incompreendida, invadida e foi quando tive aquela sensação de escuridão apesar das pálpebras abertas... como naquele dia de Agosto arredado, em cima da cerejeira a tropeçar na incandescência do sol. Ali ajoelhada, diante de mim, a sua grandiosidade catedralesca, nascida de pequeno fragmento da genialidade de um só homem. Esse homem que emanava uma sensibilidade devastadora e que ninguém tocava... alguém para quem a palavra terminou debaixo dos carris metálicos de uma existência inacabada.
Apenas um olhar pode provocar essa mesma sensação que hoje evoco: o mesmo negro, que pode ser os meus olhos fechados a cair de uma escada, a surgir inesperadamente ao virar da esquina. Esse sentir que nem de lágrima se disfarça, é tão só um cambalear psicótico de encontro às paredes feitas de músculo cardíaco que aqui encerro... assim tão longe da luz. E esse encontro, ao virar da esquina, com uma plaquinha de rebordo de cetim azul com caracteres cravados, que nem sempre identifico, está sempre a um milímetro de mim. Não existe qualquer mistério, sou apenas capaz de me encontrar com ausência de luz tal como muitos e tudo porque as outras pessoas estão do outro lado.

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