Detesto. Tenho uma espécie de ruído aqui aninhado como um escravo. Perfeitamente educado para estar aqui sem se mexer. Um ruído agoirando um rompante selvagem que já não conhece. Este ruído urdido num vazio perdido no meu corpo, vazio esse que por vezes preferia recuperar. Um vazio que simulo instintivamente, mas que preferia não simular.
Não estou vazia, mas sinto-me como se estivesse.
Vazio que é cheio. Cheio de dias que vêm ter comigo cheios de abraços carinhosos fictícios e humanos, porque no fundo estou só. Porque quando devo estar acompanhada estou só. E quando estou só acompanho-me com pensamentos feéricos que me façam esquecer este ruído tão cheio de silêncio e que detesto, encontro-o debaixo das unhas e entre os cabelos, nas olheiras cinzento cada vez mais perto do negro. Queria um abraço ingenuamente animal, que não quisesse saber porque estou assim ou porque estou só, um abraço puramente abraço, movido por um detector não selectivo de solidão. Um algo sem destino, que me acompanhasse quando não estou acompanhada. Uns olhos sem serem olhos, pequenos e discretos, que me sorrissem assim que os recordasse. Uma simples recordação que não estivesse emaranhada em todo este barulho do qual não me consigo livrar.
Alguém que me lê e eu não vejo.
2007/10/31
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2 comentários:
este texto faz-nos realmente sentir esse ruído também dentro de nós...
*
;)*
(a música não está a dar :(...)
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